Aos 11 anos, o Ceará Music anuncia a chegada da maturidade. Lançado em 2001, o festival de música que sempre aconteceu por volta do dia da criança, teve como marca a reunião de atrações que atingiam muitas idades. De Ira! e Shaman até Sandy & Júnior e Cine, a ideia de primar pelo ecletismo acabou se diluindo quando as atrações foi se voltando mais para os adolescentes.

Numa espécie de volta por cima, o Ceará Music retorna hoje em formato revigorado e com os cabelos um pouco mais grisalhos. Mais uma vez no Marina Park, casa onde o evento acontece desde sua primeira edição (sem citar o apêndice eletrônico montado no Mucuripe Club), a primeira noite desta 12ª edição vai ser marcada pela presença de atrações já bem calejadas pelo tempo de suas carreiras.

A primeira delas são os Titãs, banda paulistana que está rodando o País com sua turnê comemorativa de 30 anos de carreira. O que antes era um octeto, hoje é só um quarteto formado por Branco Mello, Tony Belotto, Paulo Miklos e Sérgio Britto. Contando esporadicamente com a presença dos antigos colegas Arnaldo Antunes, Nando Reis e Charles Gavin, eles estão comemorando também os 25 anos do antológico álbum Cabeça Dinossauro, recentemente relançado com faixas bônus.

Embora não estejam vivendo o melhor momento de sua vida, os Titãs têm arrastado um público grande e fiel por onde passam. Desde antigos admiradores até os “cristãos novos”, muita gente tem ajudado a fortalecer o coro de sucessos como Marvin, Comida e Diversão. E quando o assunto são as canções do Cabeça, a catarse é geral. Clássico do rock nacional lançado em 1986, o disco ajudou a tirar a banda de um pop urbano meio iê iê iê e chutou o balde geral com hits envenenados como Polícia, Porrada e Bichos escrotos.

Além dos Titãs, outra atração de longa data a marcar presença esta noite é Mick Hucknall, ex-vocalista do Simply Red. Há dois anos seguindo em carreira solo, o ruivo de voz rasgada só teve tempo de lançar um disco solo, Tribute to Bobby. O disco, lançado em 2008, é um tributo ao bluesman e soul singer Bobby Bland. Com 12 faixas e acrescido de um DVD bônus, a homenagem dá uma roupagem contemporânea ao repertório do americano de 82 anos.

Iniciar a carreira solo com um tributo a Bobby Bland fala muito sobre quem é o próprio Hucknall. Figura central do Simply Red, foi ele quem fundou e moldou o som que mistura toques de jazz, soul, blues e dance music. Por isso mesmo, ele sempre apareceu sozinho nas capas dos 10 discos que lançou com a banda. “Eu sou o Simply Red”, chegou a afirmar recentemente. E olha que ao longo de 25 anos de estrada, mais de 20 músicos já passaram por ela, incluindo o guitarrista brasileiro Heitor Teixeira Pereira, o Heitor TP.

Outro veterano que preferiu seguir um caminho solitário foi Ali Campbell. Depois de 30 anos à frente banda britânica UB40, ele largou o combo reggaeiro para tocar a vida sozinho e ainda desdenhou o prato onde comeu. “Gravar agora é mais fácil. O UB40 era uma boa banda, mas não eram grandes instrumentistas, e o trabalho era mais difícil”, declarou ele à revista Rolling Stone. Fanático por reggae, o motivo que o fez abandonar os companheiros com quem tocava desde 1979 foi o fato de, a cada dia, a banda se afastar mais dos sons jamaicanos para agregar outros estilos.

Alegando não ter nenhum cuidado especial com a voz e se assumindo um usuário fiel da cannabis, Ali Campbell já conta com quatro discos solo. O mais novo deles é Great British Songs, de 2010, um apanhado de canções britânicas revestidas com o som de Bob Marley. Entre as selecionadas estão Got to get you into my life (Beatles), Honky tonk woman (Rolling Stones) e You really got me (Kinks). Nessa turnê que passa por três cidades brasileiras e se encerra no Ceará Music, ele mistura essas aos antigos sucessos do UB40. Uma apresentação na medida para os fãs saudosistas.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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