Com mais de 5o anos de carreira, Alaíde Costa é uma cantora ainda bem pouco conhecida do grande público e com muitas coisas a serem exploradas. Revelada ainda na infância, cantando em programas de rádio, ela teve seu talento reconhecido na época da explosão da Bossa Nova e ganhou o apadrinhamento de ninguém menos que João Gilberto. Mas, por conta de problemas sérios de audição, o que também lhe trazia problemas para cantar, sua carreira discográfica acabou sendo comprometida com lançamentos bem espaçados. Fiel à leveza da própria voz, a carioca sempre procurou um repertório que reafirmasse seu tom oratório e dramático. Abusando da extensão das notas sempre agudas, a personalidade musical de Alaíde Costa é quase que uma prisão que transforma tudo em bossa nova. Isso fica claro na gravação de Bela Bela, faixa relançada em Amiga de Verdade, disco lançado de forma independente em 1988 e agora relançado pelo selo Discobertas. Dividida em momentos lentos e agressivos, Alaíde fica com a primeira parte enquanto a segunda é entregue para Milton Nascimento. Produzido por Zé Nogueira, Amiga de Verdade alinha os tons sussurrados da cantora com um time de músicos brasileiros de primeira linha. Se os discos de duetos sempre funcionam para oxigenar carreiras, neste caso, a lógica não é bem essa. Como boa parte dos convidados são instrumentistas, o que fica em evidência mais uma vez são os miados delicados da anfitriã. Wagner Tiso, por exemplo, faz uma cama refinada para Cinema antigo (Sueli Costa/ Cacaso), assim como Egberto Gismonti ao reeditar a beleza de Mais que a paixão, composição própria que batizou o disco de Wanderlea lançado em 1978. Triste e doída, Teus olhos, meu lugar, de Toninho Horta e Ronaldo Bastos, agregam o violão do mineiro com os teclados de Gilson Peranzzetta. Mas, Amiga de verdade também promove belos encontros de vozes. O primeiro deles é Quem sabe, lindíssima composição e Elton Medeiros e Paulinho da Viola que traz a sutileza deste último nos vocais. De Ivan Lins e Vitor Martins, Choro das águas parece ter sido feita para a intérprete que se mostra inspirada entre os climas criados pelos teclados de Ivan. Para encerrar esta reedição da Discobertas, duas faixas lançadas em compacto são agregadas ao repertório. Fieis à economia de arranjos e ao clima de Amiga de Verdade, Teu simples não (Rique Pantoja/ Regina Werneck) e Dois corações (Johnny Alf) fecham a audição mostrando o quanto Alaíde Costa precisa ser descoberta pelas novas gerações.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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