Fotos: Sara Maia

Odair José – (interrompendo) Eu soube até que estão pensando em colocar a prostituição como uma profissão, com carteira assinada.

DISCOGRAFIA – O que você acha disso?

Odair José – Eu não acho nada, mas acho fantástico. Dizem, eu não sei, que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Desde quando existe a mulher que o homem procura e ela se comercializa. Eu sou apaixonado pelo universo da mulher. Eu penso em mulher vinte e quatro horas. A vida não pode ser concebida sem a mulher. E não importa de que universo que seja, se da prostituta, da dona de casa, da empregada. Eu acho que a parte feminina da vida é que me fascina. Muito mais que o machão. Esse negócio de machão, eu to fora. Muito embora eu seja um compositor de homem. Eu nunca fui o compositor das empregadas. Quando lançaram essa novela aí da Globo, desse negócio da empregada (Cheias de Charme), queriam que eu fosse lá fazer uma foto com as atrizes. Eu falei: “posso até fazer a foto, mas vocês vão vender uma imagem que eu não concordo com ela”. Empregada nunca pregou um retrato meu na parede do quarto. Se existia um cantor que a empregada não gostava era o Odair José, por que eu não sou bonito, eu não sou um tesão. Elas gostam de homem bonito. O sonho delas é o galã.

DISCOGRAFIA – Mas voltando ao que eu estava lhe perguntando, você colocou na sua música personagens que as pessoas, por tabu ou preconceito, preferiam não falar. Você acha que isso foi compreendido na época?

Odair José – Na época eu fui entendido e muito respeitado. Não sei por que depois as pessoas passaram a ver aquilo como uma coisa menor. Em 1977, quando eu faço (o disco) O Filho de José e Maria , que é chamado de ópera- rock, nesse período a própria crítica achava meu trabalho genial. Não sei se por causa daqueles discos mal feitos que eu fiz em 1980 e 1990 as pessoas tenham me jogado numa prateleira meio assim. Hoje, o público e os músicos mais jovens acham o Odair José legal. (Quem) Não acha legal é o cara mais velho que é preconceituoso.

DISCOGRAFIA – O tema sexo é sempre muito presente na sua música. Como você perdeu a virgindade?

Odair José – Você acredita que eu não me lembro? Detalhes assim eu não me lembro. Eu sei que foi em Goiânia e foi num cabaré, com uma prostituta, onde todo jovem ia lá pra fazer sexo. Eu devia ter uns 16 anos, por aí. Tem uma música minha, que a censura proibiu, e que nunca foi liberada, chamada A primeira noite de um homem. Eu conto justamente detalhes da primeira vez do cara. O nervosismo, o medo de não agradar, de não fazer direito. Por que, se pra mulher existe a preocupação pela primeira vez, nós também temos. Não é fácil. Embora eu não lembre como foi, na música eu contava como se lembrasse. Mas a censura não deixou ir pro mercado.

DISCOGRAFIA – Você lembra, pelo menos, se foi um momento bom?

Odair José – Lá em Goiânia tinha uma rua que era onde ficavam as casas com as moças. E a gente era sempre levado lá por um cara que já tinha ido, um colega ou irmão mais velho. E eu fui com uma turma. A gente tinha uma banda nessa época chamada Monfet e acho que a gente foi em grupo lá pra fazer sexo, evidentemente, um dizendo pro outro que já tinha ido (risos).

DISCOGRAFIA – Falando de outra turma, você faz parte de uma geração que tem o Waldick Soriano (1933 – 2008), Agnaldo Timóteo. Vocês são sempre apresentados como um grupo. Como era a relação de vocês?

Odair José – Todos eles são de antes. Mas é aquela coisa do balaio. As pessoas veem e dizem “é tudo ali”. O Waldick, com quem eu convivi, sou apaixonado por ele, a última vez que o vi foi aqui no Mucuripe, mas ele já estava bem doente. Mas eles todos são de antes. O novo quando chega, os caras que estão ali não gostam muito. Logo que você chega e faz um sucesso muito grande, tem sempre alguém que vai torcer a cara. Mas eu não percebi isso de um modo geral por que eu sempre fui muito simples. Acho que eles não se assustavam comigo. Quando eles viram, eu já estava lá e já era tarde.

DISCOGRAFIA – Quem foi seu primeiro grande amigo na música?

Odair José – Não sei comigo, ou se é com todo mundo, mas não existem “grande amigos” na música. Isso é uma pequena parte. Você pode citar aí um Caetano e Gil, um Roberto e Erasmo. Eu, quando cheguei, sempre me dei bem com todo mundo, mas nunca de ir na casa, de confidências.

Encerra no próximo post…

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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