Risco constante, o fato é que não existe regras na hora regravar a obra de alguém. Há quem soe referencial e quem busque mudar tudo (quando o risco é bem maior). Independente do resultado, homenagens e tributos ajudam a manter viva a memória da música. De olho nisso, neste fim de 2012, três homenagens chegam aos ouvintes jogando novas luzes sobre as obras de três ídolos da música brasileira: Renato Russo (1960 – 199), Elis Regina (1945 – 1982) e Belchior.
Isso fica claro logo depois de um pot-pourri instrumental, quando Rogério Flausino entra. Escolhido mais pela popularidade do que pela adequação ao repertório, o vocalista do Jota Quest soa deslocado em Tempo perdido e Quase sem querer. O mesmo acontece com Pitty, pálida em Índios. Contemporâneo do homenageado, Toni Platão segura Quando o sol bater na janela do teu quarto como pode, enquanto o Marcelo Bonfá se sai melhor em O teatro dos vampiros. Deixando o melhor para o final, Herbert Vianna e Dinho Ouro Preto ganham pela experiência ao cantarem, respectivamente, Será e Por enquanto. No entanto, para a multidão ali presente, os convidados são detalhe. O que importa mesmo é a emoção de homenagear Renato Russo, e, só por isso, já valeu a festa.
Doce de pimenta
Com a gravidez ainda nos primeiros meses, o show gravado em São Paulo capta Maria Rita dando a medida exata de emoção e personalidade a 29 canções, muitas delas com registro definitivo na voz de Elis. Sem nem de longe querer soar melhor que a matriz, a filha soa respeitosa em Como nossos pais, O bêbado e a equilibrista e Romaria. Embora o filé de Redescobrir seja formado por clássicos, o projeto também garimpa algumas pepitas escondidas nos mais de 30 discos da homenageada, como a sensual Bolero de Satã, o sambão Agora tá e a politizada Onze fitas. Cercada por apenas quatro músicos (incluindo o namorado Davi Moraes na guitarra), Maria Rita deixa de lado as invenções e faz seu ofício de cantar e emocionar o público da melhor forma possível.
Latino-americano
Cantor de voz inconfundível, Belchior soube dar personalidade à própria obra e poucas vezes soou melhor na voz dos outros. Por isso, embora a proposta seja inovadora e algumas versões surpreendentes, Belchior Blues fica melhor à medida que os convidados se afastam do original para dar cara própria às canções. É o caso de Big Joe Manfra, cuja voz explosiva enche a Velha roupa colorida de peso. Mesmo sem a dramaticidade que a música pede, Arthur Menezes aposta no suingue em Hora do almoço, enquanto o gaitista Vasco Faé flerta com o gospel em Pequeno mapa do tempo (creditada como “Pequeno mapa do mundo”). Também entre os destaques, os cearenses da Blues Label jogam balanço em Paralelas, enquanto Felipe Cazaux transforma Rapaz latino-americano num lamento furioso. Certamente, onde quer que esteja, Belchior feliz com a homenagem.