Falar em disco natalino traz ao brasileiro um nome em especial: Simone. Motivo de orgulho na época e de piada depois, a intérprete baiana encheu a botija em 1995 lançando o disco 25 de Dezenbro, somente com canções de Natal. É fato que, na época, lançar um disco dedicado exclusivamente a este tema era uma novidade e, por isso mesmo, este se tornou o maior sucesso de vendas da cantora. Importante: ainda hoje o disco é facilmente encontrado nas lojas. No entanto, de lá pra cá, a ideia se espalhou e muitos artistas, com diferentes resultados (e sem apagar a imagem de oportunismo), embarcaram no trenó do Papai Noel para engordarem suas discografias e contas bancárias. Um dos nomes recentes nesse campo é o da atriz Bibi Ferreira que, sempre que pode, entra de cabeça no mundo da música. Com 11 faixas e convidados (no mínimo) curiosos, Natal em Família (Biscoito Fino) mistura temas obrigatórios com outros vindos de outros universos, mas que acabam se alinhando na proposta. É bem verdade que esta carioca de 90 anos tem dignidade e história de sobra para espanar a imagem de oportunista. E mais, apostando em belos arranjos orquestrais assinados por Flávio Mendes, também responsável pela produção, o disco acaba se tornando um pouco mais que a trilha para um período do ano. Conduzida pelo piano de Itamar Assiere, Sino de Belém (Jingle bells) abre o disco em clima jazzístico e ainda conta com a voz poderosa de Alcione para um dueto. Segurando as mudanças de tom, as duas cantoras fazem um belo trabalho antes de passarem a bola para Marília Pera recitar uma trovinha intitulada Doce natal (Carlos Dimuro). Em seguida vem a valsinha Feliz Natal, raridade de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, que traz o sempre esssencial Emílio Santiago derramando seu veludo vocal sobre um delicada cama de cordas. Pérola bossanovista, Estrada do Sol (Tom Jobim/ Dolores Duran) vem num pot-pourri com Estão voltando as flores (Paulo Soledade) que lembra aqueles filmes cheios de neve, crianças rosadas e amores inspirados. Para esta faixa, Bibi convidou a sertaneja Roberta Miranda, que perde o tom com sua voz exageradamente encorpada. Um dos arranjos mais criativos deste Natal em Família, E nasceu Jesus (Orlandivo/ Roberto Jorge) deixa a bola cair com a presença dispensável do Padre Fábio de Melo. Se contrapondo à serelepe trama de piano e sopros, a voz grave do convidado se mostra presa, sem vida e destoante. Já as cinco convidadas de Um novo tempo (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle/ Nelson Motta) dão mais graça a um dos temas mais populares do Natal (aquele do “hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa”). São elas as jovens cantoras Alexia Bomtempo, Alice Caymmi, Ana Cristina, Joyce Candido e Maíra Freitas. Em seguida, uma inexplicável e dispensável Xuxa divide com a anfitriã e com o Coral Dó Ré Mi a balançada Vem chegando o Natal, versão nacional para Santa Claus is coming to town (Vaven Gillespie/ Coots). Daí em diante, o Natal de Bibi Ferreira vai ficando mais sério. A começar por Noite Feliz (Franz Gruber/ Arico Junior), entoado em seu clima sereno e lento ao lado do Coral Dó Ré Mi e das Princesas Cantoras de Petrópolis. Em seguida o tenor Max Wilson faz sozinho Oh, Noite Santa (Adolphe Adam), faixa que, apesar de bonita, soa deslocada pela ausência de Bibi. Mais uma das bem clichês, Natal das Crianças (Blackout) é mais do mesmo e vem antes do gospel Oh, Happy Day (Edwin Hawkins), solado por Letícia Hilário, mais uma vez sem Bibi. Para encerrar, Ave Maria (Franz Schubert) conta com a participação de um apagado Ronnie Von, comprovando que o Natal de Bibi Ferreira teria sido mais interessante se ela tivesse escolhido melhor seus convidados ou passado sozinha.
Aos 90 anos, Bibi Ferreira entra no ramo dos discos natalinos buscando ousadia
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