“Mais uma dose? É claro que eu estou a fim. A noite nunca tem fim. Por que que a gente é assim?”. A disposição para tocar e celebrar a história de um dos maiores expoentes do rock nacional é a única resposta para essa última questão. Por isso mesmo que o trecho de Por que a gente é assim está batizando a nova turnê do Barão Vermelho, que passa esta noite por Fortaleza. A apresentação única acontece na Barraca Biruta, palco que recebeu o quinteto carioca tantas outras vezes, e tem participação da banda Reite.

A turnê + 1 Dose acontece cinco anos depois do último encontro do Barão, que entrou em animação suspensa desde que o guitarrista e vocalista Roberto Frejat deu início à sua carreira solo em 2001 com Amor pra recomeçar. Depois disso, Guto Goffi (bateria), Peninha (percussão), Rodrigo Santos (baixo), Fernando Magalhães (guitarra) e Frejat voltaram a se encontrar somente em 2004, quando gravaram o disco que veio puxado pelo sucesso Cuidado. Depois, turnê pelo Brasil, trabalho ao vivo (pela MTV) e uma nova parada. Cada um para seu lado, embora tenham colaborado entre si em discos solo.

A razão para este novo reencontro, que teve início em outubro do ano passado, é a comemoração dos 30 anos de lançamento do primeiro álbum da banda. Relançado pela Som Livre, o álbum Barão Vermelho mostrava as guitarras estridentes do quinteto fazendo cama para a poesia feroz do saudoso vocalista Cazuza (1958 – 1990). “Pouco importa que essa gente vá falar mal. Eu já tô pra lá de rouco, louco total”, berrava o carioca na faixa de abertura Posando de star. Essa música foi ainda motivo de polêmica na época, por que a gravadora implicou com o verso “você precisa é dar” gritado pelo cantor. A solução foi trocar, a contra gosto, para “você precisa é dar-se”.

“Quando foi lançado o Never mind the bolocks (Sex Pistols), foi lançado para sacudir o rock. O primeiro do Barão é do mesmo jeito. Era muito punk para a época, era para dar uma chacoalhada na MPB”, comenta o baterista Guto Goffi, assumindo que essa avaliação só veio agora, durante a remasterizarão do disco. “É um disco de poesia muito verdadeira, coisas que os jovens não estavam muito acostumado a fazer. A poesia do Cazuza realmente feria”, acrescenta realçando ainda o fato do vocalista ter dado mais ênfase à brasilidade dentro do rock. “Foi o primeiro grupo a dizer ‘é’ no palco, no lugar de ‘yeah’”.

 

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O disco Barão Vermelho volta às prateleiras acrescido de três faixas bônus. Uma delas é Sorte e azar, inédita encontrada nos arquivos da gravadora durante a mixagem. Usando a voz guia original deixada por Cazuza, foram arregimentados os membros originais da banda, Dé Palmeira (baixo), Maurício Barros (teclados), Guto Goffi (bateria) e Frejat (guitarra), para completar a faixa. Os outros bônus são o reggae Nós, que seria lançado com outro arranjo no terceiro disco, e uma versão mais crua de Por aí. Na versão digital, disponível no I Tunes, tem ainda uma versão em espanhol de Down em mim.

Produzido pelo guru dos barões Ezequiel Neves junto com Guto Graça Melo, o álbum de estreia do Barão Vermelho traz canções que se tornaram obrigatórias ao longo da carreira da banda, como Down em mim e Ponto fraco. Além dessas, ele optaram por passear por todos os discos, com direito até às músicas mais obscuras, como Menina mimada, Carne de pescoço e o cover de Satisfaction, registrado no primeiro disco ao vivo (1989). Outro ponto alto da turnê, que tem data de encerramento para 21 de março, foi a presença do baixista Dé Palmeira em algumas apresentações, dentre as quais Fortaleza não está incluída.

Há uma possibilidade dos Barões lançarem um registro em CD e DVD da turnê + 1 Dose, provavelmente com o show realizado no dia 8 de dezembro de 2012, que teve transmissão ao vivo pelo canal pago Multishow. No entanto, nada está confirmado, a não ser um musical onde Cazuza vai comparecer através de um holograma (como aconteceu com Michael Jackson e Elvis Presley). A única certeza é que uma nova parada do Barão Vermelho vem aí, e sem data de retorno. Ou seja, a quem interessar, é bom aproveitar a chance.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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