Existem movimentações artísticas/musicais que, de tão entranhadas com suas raízes, acabam sendo batizadas com seus locais de origem. É assim com o Pessoal de Ceará e com o funk carioca. Ainda nessa linha, a Vanguarda Paulistana soube transformar o modo de viver da maior metrópole do País em música, performance e poesia. Atuantes entre 1979 e 1985, nomes como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé viviam à margem da indústria, tocando principalmente do teatro Lira Paulistana, lançando discos independentes e fazendo o som que bem queriam.

Também nesse balaio estava o Grupo Rumo, formado por nada menos que 10 artistas – Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Gal Oppido, Akira Ueno, Geraldo Leite, Hélio Ziskind, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Ciça Tuccori e Zécarlos Ribeiro. Depois, ainda viriam Fábio Tagliaferri e Ricardo Breim. Passando os olhos pela lista, é possível reconhecer alguns deles, caso da sempre elogiada cantora Ná Ozzetti e do cantor e compositor, Luiz Tatit, nome frequente na discografia de gente como Zélia Duncan (a quem ela vem dedicando o show/tributo “Tô Tatiando”).

Donos de um estilo bem peculiar de composição, que misturava melodias doces com um canto intercalado por falas, o Rumo existiu entre 1974 e 1991. Nesse período, eles lançaram seis discos, todos independentes, que agora estão reunidos num box lançado pela Dabliú Discos. Para aproveitar a onda, também está sendo relançado um DVD gravado em 2004, quando o grupo se reuniu para comemorar 30 anos e o relançamento da discografia pela gravadora Trama. Seguindo uma linha meio de documentário, o vídeo é uma ótima porta de entrada para os que não conhecem o som do Rumo.

As letras, os temas e a construção de cada música, nada parece comum. Embora usem do humor, a ideia não fazer graça. O canto falado é uma marca forte, mas dizer que influência do hip hop poderia ser um tiro no pé. Pegando o fio da meada deixado pelo Tropicalismo, a ideia era mesmo tomar para si o desejo de fazer música do jeito que bem entendessem. A proposta deu certo e, mesmo independentes (numa época onde isso não era tão pop), o grupo teve uma boa receptividade.

A discografia oficial do Rumo se divide em quatro categorias. Rumo (1981), Diletantismo (1983) e Caprichoso (1986) são discos autorais, onde eles imprimem a marca forte do que queriam dizer. Quero Passear (1988) também é autoral, mas foi dedicado ao público infantil e receberam de volta um prêmio Sharp. Rumo aos antigos (1982) traz composições de Noel Rosa, Vadico, Hervê Cordovil, Sinhô e outros, tudo adaptado para uma linguagem bem diferente. Por fim, Rumo ao Vivo (1991) encerra a história do grupo, que só voltaria a se reunir em disco em 2010, num projeto especial de Geraldo Leite, chamado Sopa de concha.

É fato que pouca coisa do Rumo é assobiável. Mas o encontro daqueles ex-alunos da Escola de Comunicação e Artes da USP fez nascer um som, ao mesmo tempo, intrigante e delicioso. Casando as interpretações impecáveis de Ná Ozzetti, com os sons sutis dos demais, tudo soa leve, objetivo e claro. Agora, se for para pinçar alguns momentos mais marcantes, Essa é pra acabar, O que é que você fazia?, Carnaval do Geraldo e Delírio, meu. Depois delas, vale procurar outras.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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