Foto CRISTINA GRANATO

Ele não é negro, nunca trabalhou em plantação de arroz, nem conta muitas décadas de vida. Também não se apresenta de chapéu, paletó ou óculos escuros. Ainda assim, Artur Menezes vem abrindo espaço para mostrar sua visão particular sobre o blues para muitas plateias por aí. Espécie de operário do estilo americano nascido no Mississipi, o cearense de 27 anos já carrega no peito muitos orgulhos, como o de ter recebido elogios de alguns grandes mestres, como os guitarristas Buddy Guy e John Primer.

Chegando este ano aos 15 anos de carreira, um novo orgulho está chegando em formato de disco. #2 (Lê-se: número dois) vem três anos depois da estreia solo com Early to merry. Acompanhado dos velhos amigos Wladimir Catunda (bateria) e Lucas Ribeiro (baixo), os mesmos do trabalho anterior, Artur Menezes amplia sua carteira de ritmos lançando sete composições inéditas. #2 se completa com um cover da chorosa Dangerous mood, já registrada por gênios como Joe Cocker e B.B. King, e Everybody says that I’m done, composição do tecladista Claudio Mendes, novo integrante da banda de Artur.

Viajando entre o soul e o country, #2 será apresentado na íntegra no show deste sábado (2) no anfiteatro do Centro Dragão do Mar. O show, que Artur Menezes fez questão de que fosse gratuito, vai contar com participações mais do que especiais para o músico. Uma delas é a da mãe, a cantora Lúcia Menezes, com quem o guitarrista vai dividir Os profissionais (Belchior) e Moer cana (Chico César). Companheiro na batalha pelo blues no Ceará, o gaitista Jefferson Gonçalves também marca presença. Em seguida, Pantico Rocha e a bateria da Unidos da Cachorra aumentam o peso do baião/rock Early to merry e fazem uma leitura percussiva para o tema do filme Pulp Fiction.

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A vontade de lançar seu novo trabalho num show gratuito casa com um esforço antigo de Artur Menezes, ao lado de outros músicos, para divulgar o blues cearense. Com essa proposta, eles até fundaram a associação Casa do Blues, entidade que busca novos espaços para o estilo na noite fortalezense. “Resolvemos criar espaços para tocar e a ideia era tocar de graça. No ano passado fizemos um projeto itinerante e passamos pelos bairros. Foi bom por que atingimos muitos públicos e percebemos que esse público cresceu, principalmente no Conjunto Ceará”, explica o artista.

Em grande parte, esse esforço de levar o blues para muitos lugares tem a ver com um desejo de tirar uma capa elitista e tradicionalista que insistem em colocar sobre o estilo. No caso de Artur Menezes, nenhum desses atributos são merecidos. Mostrando seu dedilhado virtuoso do Via Funchal, casa paulistana onde abriu um show para o mestre Buddy Guy em 2012, aos terminais de ônibus de Fortaleza, ele faz questão de mostrar que seu som pode chegar a muita gente. Com o mesmo propósito, ele mistura influências de Stevie Ray Vaughan (1954 – 1990), Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e da banda AC/DC nas composições. “Tem esse rótulo de ‘bluesboy’, mas não tenho a preocupação de ser tradicional. Não estou desmerecendo o blues tradicional, mas em Chicago vi muita gente que tocava um blues diferente, misturado com outros estilos, como o hip hop. Se eu sou daqui, por que tenho que fazer o tradicional?”, questiona.

O resultado dessa liberdade é uma paleta colorida de estilos apresentados nas novas composições de #2. I ain’t got you é um gospel de marcação sincopada, enquanto Damn! You know I’m a man e I don’t wanna lose you entram de cabeça no country, com destaque para a guitarra veloz do músico. Colada em Dangerous mood, Room 821 mantém o nó na garganta com o tom choroso. Em seguida, vem o mezzo-reggae Good times e o gospel suingado Lord have mercy, que evoca o saudoso Jimi Hendrix.

De olho nessa mistura, ele entra em 2013 com muitas expectativas. A maior delas se chama Crossroads Guitar Festival, festival que reúne os maiores guitarristas do mundo no Madison Square Garden, em Nova York. Realizado a cada três anos, o evento abençoado por Eric Clapton abre espaço para um novo talento, que é escolhido por um júri entre os 100 primeiros colocados de uma eleição virtual. Até o momento, Artur se encontra os primeiros colocados desta lista. “Mesmo se eu não entrar, só o fato de eu ter ficado durante tanto tempo em primeiro lugar já valeu. Claro que eu quero dinheiro, mas também quero reconhecimento”, encerra.

Serviço:

Artur Menezes – #2

Onde: Centro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)

Quando: sábado (2), às 20h

Quanto: gratuito

Outras informações: 34888600 e 34888608

E mais: A votação para o Crossroads Guitar Festival acontece pelo site oficial do evento. Conta pontos curtir a fanpage do artista, enviar um twitter, ouvir as canções disponíveis pelo site do Crossroads ou deixando nome e email no espaço identificado como “add your support”.

Acompanhe a agenda de Artur Menezes:

12/02 – Garanhuns Jazz Festival (PE)

28/02 – Fnac Morumbi (SP)

05/03 – O’Malleys (SP)

08/03 – Villa Blues (Botucatu/SP)

29/03 – Manguinhos Jazz e Blues (ES)

22 a 25/08 – Pipa Jazz (RN)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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