NordCoreEm meio a um cenário novo na indústria musical, onde as gravadoras perdem cada vez mais espaço para a iniciativa independente, um dos caminhos mais usados pelos seus protagonistas é o da colaboração. É a velha história do “uma mão lava a outra”. São músicos, compositores, produtores, artistas plásticos, técnicos, todo mundo se ajudando para manter a roda de shows, turnês e lançamentos girando.

Um dos frutos dessa contemporaneidade é o festival Grito Rock, que realiza sua edição local este fim de semana no Conjunto Ceará. A escolha da periferia para receber o evento se justifica tanto pelo reconhecido interesse do bairro pelos variados sons da guitarra, do blues ao rock, como pela própria ideia do evento. Criado em pelo Coletivo Espaço Cubo, de Cuiabá (MT), em 2003, o festival começou a ampliar suas fronteiras dois anos depois, com a criação da rede Fora do Eixo. Hoje ele acontece em 300 cidades de 30 países e, pela primeira vez, este ano sai da América Latina para chegar à Europa, Oceania e África.

Inicialmente, o Grito Rock foi pensado como uma programação alternativa às marchas e sambas carnavalescos. Com o interesse de novos países, o período de realização teve que se estender de 1º de fevereiro até 3 de março. Em Fortaleza, através do site Toque no Brasil, mais de 50 bandas se inscreveram para os dois dias de festival. Foram 12 as selecionadas, que mostram uma variedade de estilos, que passam pelo punk, hardcore, metal e rock alternativo. A programação ainda inclui exibição de filmes, esquetes teatrais, dança, circo e arte de rua.

Os CangaiaRealizado de forma colaborativa, o Grito Rock conta com alguns “produtos” que ajudam a viabilizar a apresentação e circulação das bandas. Um deles é o Grito Rotas, onde os grupos podem selecionar uma rota, de cerca de três cidades, para realizar pequenas turnês. Outra é o Fora do Eixo Card, uma espécie de moeda de troca. Como em alguns lugares onde o festival acontece (caso de Fortaleza e Quixadá), as bandas não recebem cachê, elas recebem créditos que podem ser transformados em serviços como circulação. “Foi um evento pensado para ser feito sem a autonomia de recursos. Como é colaborativo, não é feito só por entidades que têm dinheiro”, explica Diná Matias, gestora de comunicação da Casa Fora do Eixo Nordeste. Ela acrescenta ainda que não são todos os lugares onde as apresentações são gratuitas, mas é exigência que os ingressos, onde forem cobrados, sejam a preços populares.

Para os artistas, propostas como a do Grito Rock ajudam a valorizar e a tornar conhecido o trabalho de quem não pode investir pesado na própria divulgação. “Como membro de uma banda independente, sempre fico feliz com festivais que apoiam nossa música. Festivais como esse, ou o Rock Cordel, vêm crescendo a cada ano e fico feliz que essas iniciativas de organizações façam esse tipo de evento, inclusive com bandas que ainda não foram reconhecidas como populares”, analisa Anderson Rodrigues, da banda Andes, que participou do Grito Rock Quixadá, realizado durante o Carnaval. Com um disco recentemente lançado, eles contam com iniciativas assim para divulgar seu som autoral.

 

D' Rudes

D’Rudes

O mesmo acontece com os Chicones, que passaram por Quixadá e chegam a Fortaleza este fim de semana. Com cinco anos de formação, eles integram também o projeto MIRC, que promove eventos de forma colaborativa. “É uma associação de bandas da periferia, na Maraponga, pra fazer shows”, explica o vocalista a guitarrista Horácio. Depois de uma pequena turnê pelo Nordeste com a banda Dead Fish, os Chicones agora buscam espaço para apresentar seu punk rock para novas plateias, inclusive fora do País. “Nosso baixista foi para a Inglaterra estudar Física, mas está também cavando espaço para a banda. Pela experiência de tocar fora do Estado, sei que temos uma aceitação legal. Em relação ao palco, a Chicones se responde”.

Serviço:
Grito Rock Fortaleza
Quando: sexta (15) e sábado (16), a partir das 19h
Onde: Av. Ministro Albuquerque Lima, SN (quadra de skate do polo de lazer do Conjunto Ceará)
Quanto: aberto a o público
Outras informações: 99982038 e 32625011

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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