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Quem diria que, mesmo depois de quase duas décadas de baixa popularidade, Baby do Brasil pudesse voltar ser a grande atração de um Carnaval. Mas foi o que aconteceu este ano em Recife e, para nossa sorte, em Fortaleza. Escalada para a última noite de festa na Praia de Iracema, era grande a expectativa para rever a cantora que andava afastada do público para botar pra frente um trabalho gospel iniciado em 1990, quando ela se transformou em pastora da Igreja Ministério do Espírito Santo de Deus. Mesmo sem abandonar o jeito tresloucado e os cabelos roxos, a “nova baiana” de Niterói adotou o jargão e a postura evangélica e pôs de lado sucessos construídos ao lado do ex-marido Pepeu Gomes. O responsável pelo retorno da artista foi o filho Pedro Baby, que, ouvindo um conselho de Gal Costa, com quem está tocando na recente turnê Recanto, convidou a mãe para relembrar suas velhas e saudosas canções. Baby, por sua vez, recorreu a Deus para saber se poderia topar a empreitada. Por sorte, o Criador deu o aval e ela pode fazer uma legião de brasileiros feliz com a turnê Baby Sucessos. Parte destes fãs estavam em Fortaleza na última terça-feira (12), quando a intérprete subiu ao palco depois das 23h. Com a voz inacreditavelmente perfeita, corpão com tudo em cima e a energia de uma menina, Baby, no auge dos 60 anos, demonstrou que o fôlego que Deus lhe deu não tem prazo para acabar.

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Com roteiro e (ótimos) arranjos escritos por Pedro, a artista começou a viagem com Olhos de luzes, já recebendo palmas calorosas da plateia. A banda, uma estrela à parte, era azeitada por um duo de percussionistas que ganhou ainda mais destaque na espetacular leitura de Todo dia era dia de índio. deixando claro que herdou o dedilhado do Pepeu, Pedro Baby comandava o palco, ora como coadjuvante, ora como protagonista. Com a voz curiosamente igual à do pai, foi ele quem puxou no bis a clássica Mistério do planeta, do repertório dos Novos Baianos. Corujando de lado, Baby se limitou a assistir o filho e inserir pequenos vocais. Ainda no quesito corujisse, era comum a cantora se pegar com o olhar perdido de orgulho pelo filho. Ele, então, devolvia improvisando um “estamos com saudades, Baby” em Planeta Vênus. Embora pareça comentário de fã, o show de cerca de uma hora e meia chegou ao fim sem um escorregão sequer e coube sucessos radiofônicos como Menino do rio, Tudo azul, Telúrica, Cósmica, Sem pecado e sem juízo e Lá vem o Brasil descendo a ladeira. Teve espaço ainda para o rock Barrados da Disneylandia e para um  encerramento em grade estilo com uma homenagem a Pepeu Gomes, com Masculino e feminino. Se limitando a falar em pouco momentos (talvez por sugestão do filho), Baby do Brasil se mostrou coerente ao não deixar de lado o discurso gospel. Recebidas com muitas palmas, suas palavras reafirmavam que a postura evangélica veio para ficar, doa a quem doer. Mas ela também se emocionou a lembrar várias passagens da sua trajetória, inclusive agradecendo a presença de Betão Aguiar, filho de Paulinho Boca de Cantor, no baixo. “Esse aqui eu quase dei mamar”, brincou a cantora. Já registrado para ser lançado em CD e DVD (ainda sem previsão), o show Baby Sucessos é um rotorno digno de uma grande artista, que deve retornar ao gospel logo mais. No entanto, dessa vez, esperamos que Deus a aconselhe a manter as carreiras religiosas e musicais com tudo em cima.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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