Por Nelson Augusto, jornalista

os-beatles-em-show-de-1964-em-imagem-registrada-pelo-fotografo-mike-mitchell-11021964-1311242878776_1920x1080A partir da explosão dos Beatles nos Estados Unidos, quando no dia 9 de fevereiro de 1964 John, Paul, George e Ringo se apresentaram no programa Ed Sullivan Show para uma plateia estimada em 74 milhões de telespectadores, considerada a maior audiência da televisão americana, o reflexo do sucesso se espalhou pelo mundo inteiro. No Ceará, essa febre também teve influências e é cultuada até hoje por milhares de pessoas de várias gerações.

Assis Santos me contou que, por causa das dificuldades de se encontrar instrumentos e equipamentos para os então conjuntos, a primeira guitarra, feita artesanalmente por um luthier em Fortaleza, nos primeiros anos da década de 60 foi tocada por Júlio Serra, no seu grupo Os Belgas, que possuía repertório exclusivo dos Beatles. Depois, o instrumentista, chegou a compor a formação original da banda O Peso, antes de ter se destacado no rock/blues nacional na década de 70 com o então LP Em Busca do Tempo Perdido. Júlio não aguentou a barra no Rio de Janeiro e retornou para Fortaleza antes do sucesso, onde até hoje em dia, é bancário.

Nos anos 60 e 70, conjuntos como os Big Brasa, Os Faraós, Os Brasas, Brasa Seis, Os Dinâmicos, The Dangerous e The Monkeys, Os Moscas e os Rataplans, entre outros, animavam os bailes e tertúlias nos vários clubes sociais e poucas casas noturnas na cidade. Em comum, tinham obrigatoriamente em seus repertórios, os sucessos originais dos Beatles, ou vertidos para o português por vários artistas que na época se enquadravam no movimento nacional Jovem Guarda.

beatles-1963Desses conjuntos, um dos que mais se identificou com as canções de John, Paul, George e Ringo foi os Faraós, egressos do bairro Piedade, que na opinião de Fagner, “era a Liverpool cearense”, onde ele começou, como vocalista da banda Os Quem, inspirada na inglesa The Who. Tendo em sua formação mais popular, e com apogeu na segunda metade da década de 60, Os Faraós, foi um quarteto composto pelos irmãos, Sebastião, Antônio Carlos, Vicente e Luisinho Magalhães, hoje conhecido como Luisinho & Banda, representava nos palcos, com muito sucesso, as músicas dos Beatles. Luisinho, já nos anos 2000, chegou a gravar um CD com repertório exclusivo dos Fab Four. Outro que repetiu o fato, na mesma época, foi o violonista Nonato Luiz, que registrou um álbum instrumental, tocando temas Beatles.

Carlos Roberto Machado também viveu intensamente a época e cita a Bitolândia no Benfica, uma espécie de confraria que reunia sistematicamente os admiradores dos Fab Four, sob o comando de Danilo Barata. Roberto relembrou que um grande momento de efervescência do movimento aconteceu quando da vinda do conjunto carioca Brazilian Bitles, em 1966, o qual fez uma antológica apresentação, lotando o estádio Presidente Vargas, num show cujos ingressos eram obtidos pelas trocas por 20 chapinhas do guaraná Wilson ou do Crush.

A atual bancária Márcia Carneiro coleciona discos, revistas e livros até hoje. Na década de 60 as paredes da sua de sua casa, no centro da cidade, estampavam posters dos Beatles. Um dia, um funcionário da então Conefor, quando fazia a leitura do consumo de energia, se espantou com tantas fotos. Ao perguntar a então adolescente beatlemaníaca, ela não titubeou e respondeu, “são meus irmãos”. Márcia também assistia aos filmes dos Fab Four nas concorridas sessões no cines Diogo e São Luiz, nas quais, sempre que podia, levava parte dos cartazes de propaganda e até pedaços de películas, para guardar e ver depois, em binóculos.

Outra patota beatlemaníaca que, no início da segunda metade da década de 70, se conheceu no curso de Letras da UFC, foi formado por mim, Eugênia Harrison, Fábio Parente, Júlio Serra (ex-guitarrista de Os Belgas), Vera Santiago e Astrid Miranda Leão. As duas últimas se tornaram professoras de inglês e até hoje dão aulas na UECE. No reuníamos algumas vezes, principalmente para ler a revista Beatles Unlimited, publicação estrangeira que assinávamos para saber das novidades dos Fab Four, após a separação, numa época que ainda não contávamos com a internet.
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No começo dos anos 80 quando da fundação da Rádio Universitária FM, eu a Astrid começamos a participa do então programa “Música de Todo o Mundo”, o qual em 1990, quando do primeiro show de Paul McCartney no Brasil, no Maracanã, se transformou no atual “Frequência Beatles”. Nessa época, as bandas Caco de Vidro e Yer Blues, que depois mudou para Rubber Soul, faziam ao vivo nos palcos a alegria dos admiradores dos Fab Four. Hoje, em Fortaleza, também se somam a Band on The Run e a Sargento Pimenta, com repertórios Beatles.

Além das bandas que tocam ao vivo, o programa Frequência Beatles, o qual vai ao ar todos os sábados a partir das 18 horas na Rádio Universitária e que promove uma festa anual na Concha Acústica da UFC que chega a reunir 10 mil pessoas, também existe outra proposta que visa mostrar para as novas gerações, a obra de John, Paul, George e Ringo. Trata-se do Projeto Beatles, do Colégio Santa Cecília, que, através de aulas espetáculos e pesquisas com feitas pelos alunos do ensino fundamental, repassam para seus participantes, ensinamentos pedagógicos, de informática, inglês e música, através da história das canções dos Beatles. Ideia semelhante, será implementada brevemente também para os estudantes das escolas públicas, em Sobral.

A vinda de Paul McCartney para um show na Arena Castelão no próximo 9 de maio, com possibilidade de ser transferida para o dia seguinte, vai coroar de êxitos uma campanha que começou nas redes sociais no ano passado e que, no segundo semestre foi reforçada com a ida de fãs cearenses para Londres e Liverpool com faixas de mensagens diretas aos apelos do tema. A apresentação do baixista dos Beatles com sua competente banda, será uma espécie de divisor de águas no show bizz do Ceará, o qual será lembrado como, antes e depois da exibição do autor de Yesterday. Espero que, depois desse espetáculo, a beatlemania cearense ganhe mais admiradores.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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