emlio santiago

Calou-se no início da manhã desta quarta-feira (20) uma das vozes das mais belas vozes da música popular brasileira. Eram 6h30 quando a assessoria do cantor carioca Emílio Santiago anunciou sua morte causada por complicações decorrentes de um AVC sofrido em 7 de março último. Internado desde então na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Samaritano, no bairro carioca de Botafogo, o cantor contava 66 anos de vida. O enterro está programado para hoje (21), às 11h, no túmulo que ele comprou para a mãe, no Cemitério Memorial do Carmo.

Emílio Vitalino Santiago nasceu sob o calor carioca em 6 de dezembro de 1946. Formado pela Faculdade Nacional de Direito, ele logo trocou a toga pelo microfone. Absorvendo o que podia de vozes como João Gilberto, Cauby Peixoto, Francisco Alves e Dick Farney, Emílio começou na carreira artística participando de festivais e programas de TV. Entre eles, A Grande Chance, apresentado por Flávio Cavalcanti.

Numa terra conhecida e marcada pela hegemonia das grandes vozes femininas, Emílio Santiago se impôs com seu tons graves a veludados e reinou absoluto como crooner desde os anos 1970. Logo de cara, recebeu do crítico Sérgio Cabral um comentário elogioso: “finalmente, um cantor que canta”. Seu primeiro registro fonográfico veio com o compacto duplo, que trazia Transas de amor e Saravá o nega, lançado em 1973.

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A estreia em LP veio dois anos depois, pela gravadora CID, num disco obrigatório para qualquer fã de música brasileira. Contando com canções de Jorge Ben, Marcos Valle, Zé Keti, e participações de João Donato, Azymuth e Dori Caymmi, Emílio Santiago deu um banho de suingue e afinação. Esse elementos, inclusive, foram uma constante numa carreira de 38 anos que gerou 30 discos.

Se os primeiros anos não foram de muita popularidade, a partir de 1988, Emílio Santiago se tornaria uma voz onipresente no Brasil e convidado constante em palcos internacionais. O motivo de tal consagração foi a série Aquarela Brasileira, da qual foi porta-voz, a convite de Roberto Menescal. Foram sete volumes que levaram a fórmula de pot-pourris de sucessos brasileiros (embalados em arranjos pouco inspirados) à exaustão. “Foi um sucesso retumbante. É coisa de cantor brasileiro, querendo imitar os cantores americanos. Tinha me enchido de dinheiro, já não devia mais nada”, comentou o cantor em entrevista ao blog Discografia, do O Povo On Line.

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Se as aquarelas dividiram amores e ódios ao cantor, a partir de 1995 ele emendou uma série de projetos que apostavam em mais criatividade. Homenagens à Bossa Nova, ao cantor Dick Farney e um espetacular encontro com João Donato. Pra encerrar a trajetória, Emílio Santiago lançou Só danço samba, um tributo ao cearense Ed Lincoln, com quem dividiu muitos bailes no início da carreira. Esse primeiro trabalho apresentado pelo selo Santiago Music, rendeu ainda uma turnê com direito espaço reservado para que os casais dançarem. Lançado em versão ao vivo em 2012, essa acabou sendo sua despedida.

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Colega de palco durante muitos anos e amigo pessoal de Emílio Santiago, o músico cearense Carlinhos Patriolino não economiza nos elogios ao cantor. “Uma parte da minha música, do meu caráter e da minha essência, eu devo aos anos que trabalhei com o Emílio. Minha noção de elegância é o Emílio, não só como ser, mas como músico. Uma das melhores coisas que a música que me deu foi ter conhecido e ter tocado com ele. Me sinto muito agradecido por ter tido oportunidade de ter cruzado o caminho dele”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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