1603va0607Carioca, 47 anos, Kátia B faz parte de um grupo cada vez maior de cantoras brasileiras que encontrou mais fãs no exterior do que no seu próprio país. No entanto, tal fenômeno diz mais sobre a miopia dos veículos nacionais do que necessariamente sobre seu som. Dona de um registro charmoso e delicado, ela acaba de lançar seu quarto disco, batizado de Pra mim você é lindo.

O título é a tradução de Bei mir bist du schon, canção judaica que já ganhou versões variadas, que aqui vem cantada com a letra iídiche original. “O som mantrico é a primeira influencia da meu trabalho. Essa música oriental sempre me intriga e sempre tive uma influência disso”, comenta a cantora, cujo B do sobrenome vem de Bronstein.

Se ao longo da carreira Kátia B atuou em muitas frentes – atriz, bailarina e compositora, além de ter sido uma das “louraças beuzebu” de Fauto Fawcett –, como cantora ela procurou seguir um caminho só. Desde que participou do clássico São Paulo Confessions (1999), disco do iugoslavo Suba, que ela adotou uma sonoridade cheia de climas eletrônicos, com intervenções elétricas e acústicas.

Agora, quase 10 anos depois de do sucesso de Só deixo meu coração na mão de quem pode (2004), ela chega à síntese ideal dessa sonoridade. “Acho que nesse trabalho eu estou mais livre, mais aberta. Acho que estou chegando mais nas pessoas”, confirma a artista que deu novos tons a A tua vida é um segredo (Lamartine Babo) e Sete mil vezes (Caetano Veloso).

Como compositora, Kátia B busca conexões que sejam, ao mesmo tempo, intrigantes e frutífera. Feita com Rubinho Jacobina, Aprendendo a viver é um proto-bolero ensolarado. Já O baile, dividida com Jam da Silva, sugere uma deliciosa dança a dois. Cada vez menos sambista, Teresa Cristina comparece nos créditos e nos vocais de Armadilha, balada de pegada forte e sensual.

Produzido de forma independente, Pra mim você é lindo é disco para se degustar com atenção. Fiel ao próprio trabalho, Kátia B mostra que sabe que caminho quer trilhar e não pretende buscar um atalho para o sucesso passageiro. “Eu amo profundamente o que eu faço e quero muito criar meios para continuar cantando. Se eu cantar de quinta a domingo para plateias pequenas, isso vai me trazer muita satisfação. Sucesso pra mim é ter trabalho”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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