1406va0102Os 72 anos de vida de Nana Caymmi, dos quais mais de 50 foram dedicados à música, lhe dão o direito a seguir determinadas regras. Uma delas se refere às entrevistas. Depende da antecedência do pedido e da disposição para atender. “Ela tem o seu próprio tempo. Se não for pensado uns dois dias antes, a coisa se complica”, é o que responde a produção.

Assim como na lida com a imprensa, Nana também tem seu jeito de levar a música. Nada de apelo comercial ou rendição aos modismos. Para a artista carioca, filha do ícone baiano Dorival Caymmi (1914 – 2008), a única melodia que lhe serve é aquela que toca fundo nas emoções e intenções. E foi dessa forma que ela colecionou os sucessos que serão apresentados no show que traz este fim de semana para a Caixa Cultural.

Nana Caymmi chega acompanhada de um time de estrelas da música brasileira – Cristóvão Bastos (piano), Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (Violão) e Chacal (percussão) – para apresentar uma história que começa ainda em 1960, quando entrou pela primeira vez em estúdio, para gravar ao lado do pai a canção “Acalanto”, feita em sua homenagem. De lá pra cá, a intérprete lançou mais de 20 discos, participou de trilhas sonoras e foi homenageada com o documentário Rio Sonata (2010), do suíço Georges Gachot, também responsável por Música é perfume, sobre Maria Bethânia.

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Sem disco de inéditas desde 2009, a maior parte dessa trajetória musical de Nana está contada no box A dama da canção, lançado ano passado pela gravadora EMI. Com 18 discos de carreira mais uma coletânea dupla de raridades, o luxuoso pacote traz os primeiros 40 anos de carreira discográfica da intérprete, que nos últimos anos vem se dedicando exclusivamente a registrar a obra completa de Dorival.

A dama da canção começa com o disco Nana, lançado em 1965 pela gravadora Elenco, um ano antes da cantora vencer o I Festival Internacional da Canção com a canção Saveiros (Dori Caymmi/ Nelson Motta). Em seguida, a caixa passa pelos raros discos ao vivo, pelo encontro com Wagner Tiso, pela homenagem a Dolores Duran e pelo pungente e delicado Voz e Suor, quando foi ela foi acompanhada em estúdio somente pelo pianista César Camargo Mariano. A caixa encerra com o sucesso comercial de Resposta ao tempo (1998), que emplacou a faixa título e Suave veneno, seguido pelos boleros refinados de Sangre de mi alma (2000).

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Nesse percurso, sem altos ou baixos, Nana Caymmi procurou se manter íntegra e fiel às próprias convicções artísticas. Mesmo em períodos onde a vida lhe dava uma rasteira, ela buscou se reerguer. Foi o que aconteceu em 2008, quando foi tomada por uma depressão depois de perder pai e mãe num intervalo de poucos dias. Depois de anunciar que iria se aposentar dos palcos, pois não conseguia lidar com a perda, acabou voltando com o disco Sem poupar coração (2009).

Em abril de 2012, ela voltou a anunciar que estava se aposentando dos discos e dos palcos. “Tenho 50 anos de disco e ganhei um de ouro. Então eu quero que o mundo se exploda. Hoje a música é outra, é bunda, é aeróbica”, desabafou durante uma apresentação no Rio de Janeiro. Mas seu canto é mais forte que isso e a música, mais uma vez, a trouxe de volta.

Serviço
Quando: sexta-feira (14) e sábado (15), às 20h; domingo (16), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 e R$ 10. À venda no local
Outras informações: 34532770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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