Por Aquiles Reis (MPB-4) (aquilesreis@uol.com.br)
Subúrbio Bossanova (Lúdico Produções) é o primeiro CD da Orquestra Criôla. Sob o comando do saxofonista, flautista, arranjador e compositor Humberto Araújo, seus treze integrantes (re)encontram a sonoridade das grandes orquestras de salão do século passado: Tabajaras, Ed Lincon, Waldir Calmon, Paulo Moura etc.
Numa salada musical com ingredientes do samba de gafieira, carimbó, baião, rumba, bolero e merengue, o som dançante da Criôla deve ser entendido, hoje, como “afrolatino” – e é assim que seus instrumentistas se veem e se identificam.
O grande trunfo do álbum, sem dúvida, são os arranjos de Humberto Araújo. Centrados que estão na ótima utilização de um naipe de saxes, flautas, trompetes, flugelhorns, clarinete, clarone e trombones, o balanço resultante é contagiante. Para aumentar ainda mais a pulsação rítmica, piano, guitarra, violão, contrabaixo, percussão e bateria têm uma pegada que faz da Criôla uma inspirada orquestra de baile.
Tudo começa com a faixa que dá título ao disco, Subúrbio Bossanova (Humberto Araújo e João Cavalcanti). O naipe de sopros ataca firme, o ritmo sente a pressão e trata de por ainda mais lenha na fogueira. O baile começa. Cantando Onde o Samba Nasceu, a malemolência da voz de Wilson das Neves se agiganta ainda mais, graças a uma cozinha que não deixa ninguém ficar quieto e aos sopros, somados a bateria, piano e baixo.
João Donato e seu piano participam de Vacilou (Araújo e Nei Lopes), enquanto Luiz Melodia arrasa em Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) e Verônica Sabino interpreta respeitosa e saborosamente o belo samba Favela (Padeirinho da Mangueira e Jorge Pessanha). Ótimos momentos dentre inúmeros outros de igual boniteza.
Com exceção de Onde o Samba Nasceu (Humberto Araújo e Cláudio Jorge), quando Humberto divide o solo vocal com Wilson das Neves; de Favela, cantada por Verônica Sabino; de Temporal, Atemporal, cantada por João Cavalcanti; e de Carinhoso, interpretado por Luiz Melodia, o crooner oficial da Orquestra Criôla é o próprio Humberto Araújo, que defende os versos com a galhardia de um grande músico, o que ele é de fato. Seja no sax ou na flauta, Araújo está presente em todas as faixas. Nas demais, graças à sua inventividade como arranjador, o som é de uma riqueza ímpar, e a afrolatinidade soa redonda, bailante, irresistível.
A Orquestra Criôla ecoa boa música, competência, simpatia, irreverência, alegria solar, ginga, gíria, corpos exalando sensualidade, bom humor, alto astral… Enfim, é impossível ouvir o ótimo Subúrbio Bossanova sem enxergar nele a mais perfeita tradução musical do espírito carioca de ser.