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Artista moldado em cena desde a adolescência, quando cantava em bares, casamentos e botecos do Rio Grande do Sul, é mesmo no palco que Filipe Catto sente que sua arte se expressa de forma mais completa. “É o momento do bicho entrar no circo”, define ele, que está lançando o primeiro registro ao vivo da ainda curta carreira. Entre Cabelos, Olhos & Furacões, fruto de uma parceria da gravadora Universal com o Canal Brasil, chega dois anos depois da elogiada estreia com Fôlego.

“Esse projeto já caminha desde 2011. Meu sonho sempre foi gravar ao vivo. Não tem maneira mais coerente de mostrar meu trabalho do que ao vivo”, diz Filipe que vê no calor do palco um “retrato nu e cru do artista”. Batizado com um trecho de Ave de prata (Zé Ramalho), Entre Cabelos, Olhos & Furacões traz em CD e DVD o resultado de um trabalho que começou antes mesmo do lançamento do EP Saga, em 2009. Cercado pelos músicos e amigos com quem divide sua história musical, o cantor e compositor alinha 18 canções, entre composições próprias e releituras.

filipecattoentrecabelosolhosefuracoesDo próprio punho, ele apresenta Roupa do corpo, Adoração, Redoma e o blues em homenagem a Amy Winehouse Johnny, Jack & Jameson. Essa última conta com a participação da cantora paulista Bluebell. “A gente é muito amigo e ela é uma das grandes vozes que nós temos. Como ela participou desde o início (da carreira), não tinha como tirá-la desse DVD”, explica Filipe.

Misturadas com as próprias composições, está uma seleção ampla e irrestrita de versões alheias, que vão de clássicos e momentos obscuros. Alazão (Ednardo/ Brandão) já faz parte dos shows de Filipe há bastante tempo, mas só agora ganha registro, assim como Luz negra (Nelson Cavaquinho/ Irani Barros). Momento raro de emoção sincera de Fábio Jr., 20 e poucos anos permanece emocionante. Há ainda Eu te amo, antiga versão de Roberto Carlos para And I love her, de Lennon e McCartney. Dos contemporâneos, Sem medida é composição do paulistano Pélico, lançada no disco Que isso fique entre nós.

Nos mais de 80 minutos de música no DVD, Filipe Catto deixa sua voz privilegiada se sobressair em arranjos, muitas vezes, bastante caretas. Como frontman, o cantor faz samba-canção com alma de roqueiro. É o caso de Ascendente em câncer, bolero pontuado por marteladas na bateria. Embora falar em ecletismo na nova geração da MPB seja o que existe de mais repetitivo, que outra forma definir um repertório que alinha Augustin Lara (Piensa em mi) e Zé Ramalho (Ave de prata)? Ou ainda um pot-pourri com Maysa (Meu mundo caiu), Karina Buhr (Eu menti pra você), Paulo Vanzolini (Volta por cima) e Gonzaguinha (Galope)?

Para Filipe Catto, essa urgência de lançar um trabalho ao vivo se justifica por três motivos. Em primeiro lugar, uma necessidade artística. “Sou de palco e é esse o meu diferencial”, acrescenta. Em segundo, o público tinha essa demanda. Daí também parte o terceiro ponto, que é o fato das pessoas trocarem muitos vídeos das suas performances pelas redes sociais. “O apelo visual era muito grande. Não poderia deixar passar essa chance”. Além disso, ele já percebe que nessa estrada fonográfica de quatro anos, sua forma de se expressar está mais apurada. “Estou muito mais seguro. O tempo está me trazendo muito mais sutileza. E a sutileza, aliada a palavra, é a chave da emoção”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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