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“Me sinto cada vez mais querida na minha cidade”. A frase dita por Mona Gadelha pode soar anacrônica numa época em que Fortaleza tem tratado seus filhos de forma tão severa. Mas o sentimento desta cantora e compositora cearense se explica pelo mergulho que ela tem feitos em sensações, lembranças e histórias de uma cidade que existiu na década de 1970. Essa miríade caleidoscópica de sentimentos provocou e foi provocada pelo lançamento de Cidade blues rock nas ruas, novo disco que ela traz para apresentar este fim de semana no teatro da Caixa Cultural.

Lançado cerca de dois anos depois de Praia lírica, este sexto disco de Mona Gadelha leva a cantora de volta à juventude, quando se acompanhava dos amigos para percorrer Fortaleza, principalmente o Centro, fazendo música. Se no trabalho anterior a ideia era um tributo camerístico ao chamado Pessoal do Ceará, Cidade blues rock nas ruas resgata outro pessoal, mais underground, que tirava do rock e do punk suas inspirações para compor e transgredir.

mona gadelha“Já no final da temporada do Praia lírica, eu estava pensando em fazer um disco de rock. Quando ouvi o Banga, aumentou essa vontade”, relembra Mona Gadelha, se referindo ao novo disco da cantora e poetisa norte-americana Patti Smith. “É um rock muito verdadeiro, com letras maravilhosas. Comecei a ouvir, já com o espírito de voltar a fazer rock. Ouvir a Patti, me deu certeza”. Se os discos de Mona e Smith se aproximam, talvez não. Mas há um aspecto que a cearense quis absorver do disco da musa do Punk: “a questão da verdade”.

E há muita verdade em Cidade blues rock nas ruas. Como num filme de frente para trás, as 13 faixas vão misturando presente e passado, para trazer de volta o ímpeto juvenil que levou ela e amigos a criarem peças cheias de balanço e euforia como Mamãe carinhosa e Angela B, esta dedicada à publicitária Ângela Borges. “Todo mundo morava perto, então começou todo mundo junto. E tinha uma rede de pessoas que faziam rock, que trocava jornais, escrevia para jornais alternativos. A gente ouvia o Pessoal do Ceará, e gostava, mas como vinha num caminho de ruptura, pegava outras referências, como o punk”.

Mona Gadelha começou a fazer música por volta dos 14 anos. Em 1974, ela soube de um festival de rock que estava programado para a Escola Técnica. Mesmo sem grandes pretensões, inscreveu seu trabalho autoral. O festival, nas palavras da cantora, foi um sucesso. No entanto, suas canções “não vou nem falar por que tenho vergonha. Seria ótimo num disco infantil”. Risos. Como a inexperiência não a fez desistir, dois anos depois veio Cor de sonho, blues lânguido que entrou para o antológico LP Massafeira (1980).

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A Massafeira, os shows nos teatros Carlos Câmara e da Credimus, as madrugadas de música e outras lembranças ajudaram a costurar um conceito por trás de Cidade blues rock nas ruas. Daí ele falar tanto no tempo. “Pra mim o tempo no disco é muito positivo. É o tempo de uma trajetória. É mais isso do que a angústia da passagem do tempo. É a alegria de ter realizado muita coisa”. E é também o tempo de aproveitar as boas memórias trazidas pelo disco e seguir em frente. “Faço 53 anos em outubro, mas nunca me senti tão jovem. Continuo na vontade de fazer coisas com frescor”.

Serviço
Mona Gadelha – Cidade blues rock nas ruas
Quando: sexta-feira (20) e sábado (21), às 20h; domingo (22), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no local
Outras informações: 34532770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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