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Mais do que compor canções, Marku Ribas foi responsável por criar um estilo de fazer música. Esse estilo era baseado na mistura de ritmos de dezenas de culturas que ele conheceu em seus 66 anos de vida. Liquidificando e bebendo todos os sons que ouviu pela América Latina, África e Europa, ele jogou um balanço irresistível sobre sua obra, que, ainda hoje, é difícil de classificar.

No entanto, tal qual assumido no título do seu primeiro disco solo (1976), Marku Ribas nunca deixou de ser underground. Apesar dos mais de 50 anos de carreira, ele morreu em 6 de abril deste ano como um completo desconhecido para boa parte dos brasileiros. Para alguns, os maiores feitos desse mineiro de Pirapora foi ter sido convidado por Mick Jagger para tocar no disco solo She’s the boss (1985) e com os Stones no álbum Dirty Work (1986). Ou ainda o fato de ter conhecido Bob Marley, numa época em que o jamaicano ainda não usava dreadlocks (e Marku já usava). Mas, a verdade é que ele foi bem mais que isso.

É o que o box Marku 50 quer mostrar. A ideia do projeto foi do próprio Marku Ribas, para comemorar os 50 anos da sua entrada na vida artística (como baterista da Clara Nunes). Ele não teve tempo de ver concluído, mas o projeto foi finalizado pela gravadora Ultra Music. O pacote agrega dois discos inéditos e o documentário Atavu, dirigido por Carlos França. Sem didatismo ou muitos depoimentos, o filme deixa que o próprio artista se apresente, deixando os detalhes para as entrelinhas.

0309va0602Pelas imagens das apresentações, é possível perceber a força que aquele homem alto, de cabelos indomados e sorriso elétrico dispensava no palco. Improvisando frases no violão e batendo o pé para marcar o ritmo, ele tinha o balanço do sambarock, os improvisos do jazz, o carisma de um sambista e mais algumas coisas que seriam difíceis de definir. A presença de Ed Motta em um trecho exemplifica até onde ia sua silenciosa influência. “Eu tive a sorte de aprender de perto, na fonte, nas conversas, risadas canjas, vinhos, cervejas e músicas, com meu mestre Marku Ribas”, confessa Ed no texto de apresentação do box.

Já os discos apresentam canais diferentes por onde escoavam a música de Marku. Parda Pele é o lado mais dançante e foi gravado ao vivo na Taberna Casa Antiga, em Lavras Novas (MG). Ao registro original, de 1997, foram adicionados metais, teclados, guitarra e outros instrumentos. São 24 minutos, onde cabe sambareggae com rock, embolada (Embolamacumba: “Essa turma da gravata gosta mesmo é de mutreta”) e um forró envenenado. Atenção para Karranca groove, uma salada funk onde ele improvisa uma língua inexistente, também usada em Onomatojazz, de tom mais contido.

Gravado 27 anos antes, Batuki traz algumas sessões acústicas da época que Marku Ribas morava em Paris. Acompanhado de Wilson Sá Brito, Mario Clington e Mané Gomes, ele apresenta oito músicas, das quais sete são assinadas pelo quarteto. A oitava, N’biri n’biri, foi pescada do folclore angolano. Melancólico, suingado e em tom oratório, o disco traz algo de Jorge Ben (antes do Jor) com Fela Kuti (1938 – 1997), emaranhando canto e contracanto numa sucessão de improvisos.

Hoje, além do box Marku 50, poucos são os caminhos para se conhecer o gênio criador de Marku Ribas. A coletânea Zamba Ben (Universal), compilada por Ed Motta, é uma delas e ainda está em catálogo. Seu último disco, 4 Loas (2010), que rendeu três apresentações em Fortaleza, também é possível achar. Agora a Ultra Music planeja finalizar, ainda em 2013, um disco de samba, que o músico deixou incompleto, e uma autobiografia (de onde foram tirados alguns trechos para Marku 50). Mesmo que ele não esteja aqui para aproveitar, nunca será tarde para reconhecer o valor de Marku Ribas para o Brasil.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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