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O mês de setembro entrou com uma das notícias mais improváveis e inesperadas do mundo da música popular brasileira: a saída Washington Marques da Silva, o Bell, da banda Chiclete com Banana. A surpresa foi tão grande que muitos fãs ainda não acreditam que seja verdade e seguem insistindo para que ele desista da ideia. Até uma “manifestação” foi feita na Bahia, com direito a passeata e vias públicas interrompidas. O anúncio veio com um vídeo de pouco mais de quatro minutos (abaixo) onde o cantor e guitarrista, com olhos chorosos, expõe suas razões, reafirma a importância do Chiclete e  encerra dando tchau.

Amado por uns o odiado por outros, o Chiclete com Banana é uma instituição da chamada axé music, apesar de ter nascido antes mesmo desse termo (horrível) ser popularizado. Formado em 1980, a banda baiana firmou seu nome numa época em que o pipocava pelo País eram as bandas de rock. Sem fazer rock, eles logo provavam que eram muito bons em fazer festa. Não música, apenas festa. O som do Chiclete esteve acima das classes sociais ao longo desses mais de 30 anos de carreira, fazendo dançar do patrão ao empregado.

E quem não entrou pra essa festa? Quem espera algo mais da música. Ou quem entende música como arte, e não apenas como festa. Ou ainda quem simplesmente ouviu e não gostou. Como disse, o Chiclete nunca foi unanimidade. Cruzando a época do rock nacional, da lambada, do sertanejo secundarista e universitário, eles só viram sua fama crescer. Por outro lado, se viram presos a um formato musical pobre e repetitivo, que se alimenta de uma milionária máquina de micaretas, blocos de Carnaval e outros produtos. Curiosamente, foi a lida com a roda que fez Bell se despedir dos seus companheiros de banda.

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Em resposta, os demais integrantes do Chiclete, através do tecladista Wadinho (irmão de Bell), já anunciaram que a banda vai seguir com um novo vocalista, ainda não divulgado. A rapidez do músico para tranquilizar os fãs deixa claro que o que mais importa é manter a festa. Quem vem não importa. Interessa é que alguém vem. Por outro lado há um risco, já que Bell era a cara, a voz e o sorriso do grupo, e todos os demais mero coadjuvantes.

Bell também já anunciou que virá com um novo trabalho, diferente, que deve usar cordas e outros instrumentos que não cabiam no Chiclete. Um teaser desse novo trabalho já foi divulgado no Facebook, com o cantor de paletó e bandana, apresentando versos de uma canção inédita que fala em amor e Carnaval. Ou seja, o novo trabalho de Bell vai ser igual velho trabalho do Chiclete. É a eterna adolescência da axé music, que há anos demonstra cansaço, mas insiste em se mostrar como sucesso. E logo todos os chicleteiros devem se encontrar num projeto comemorativo, com a formação “clássica”, num DVD ou numa micareta por aí. E a festa segue sem vontade mudar.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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