Renegados (221)Fazer música autoral em Fortaleza é um ato de coragem. Sem gravadoras, apoio financeiro ou padrinhos fortes, cabe aos artistas assumir todo o percurso até ver suas obras nas ruas. Produção, gravação, divulgação e planejamento são algumas etapas obrigatórias, que chegam a desmotivar muita gente. Esse cenário não é novidade, mas, mesmo assim, os Renegados decidiram encarar a batalha e seguiram fazendo rock com cara cearense.

Sem arrependimentos ou cabeça baixa, a banda chega em 2013 aos seus 20 anos de estrada. Formado por Marcelo Renegado (guitarra e voz), Ricardo Pinheiro (bateria e voz) e Romualdo Filho (baixo), os Renegados vão comemorar essa história com duas noites no projeto Polifonias, no anfiteatro do Dragão do Mar, com direito a convidados. No sábado (21), o trio recebe os guitarristas Felipe Cazaux e Débora Marciel, enquanto o domingo (22) traz os músicos Mimi Rocha e Manassés. As apresentações vão ser registradas para serem lançadas no primeiro DVD da banda. Nos dois dias, a abertura fica com Gustavo Portela.

Influenciados pelos mestres do rock das décadas de 1960 e 70, os Renegados já passaram por diversas formações. Em todas elas, os irmãos Marcelo e Ricardo estiveram presentes. “Também já teve percussão, teve teclado, vários baixistas. Mas, na maioria do tempo, foi um trio. Nosso som circula no power trio, mas pode agregar outros instrumentos”, explica Marcelo, cuja relação com a música começa no avô violeiro.

Junto com os instrumentos, os Renegados também procuram trazer outros sons para a base feita com rock e blues. Escalas flamencas, tribais, clássicas, indianas, tudo pode influenciar o trio. “A gente tem muito orgulho da nordestinidade, mas também somos cidadãos do mundo. Até interplanetários”, brinca o músico, sem esconder um influência maior entre todas as influências. Espécie de farol da banda, Raul Seixas está sempre presente nas apresentações dos Renegados. “O Raulzito é um dos poucos artistas que consegue atingir todas as faixas. Ele fala de forma simples sobre vários seguimentos da vida. Por isso, ele atinge as pessoas de menos instrução, e sem deixar nada a dever a nenhum doutor”.

Nesses 20 anos de banda, os Renegados lançaram apenas três discos – Sem fronteiras (2001), A essência (2003) e Além dos rótulos (2012). Segundo Marcelo, muita coisa ficou guardada ao longo desse tempo. O suficiente para encher mais quatro discos. “A gente sempre quer fazer mais coisas. Mas, diante da realidade, tem que dar tempo ao tempo”, resume. Apesar das dificuldades, a banda segue em paz e orgulhosa com o seu passado, e já projeta para 2014 o lançamento do quarto disco (em fase de gravação) e o lançamento do DVD gravado nesta temporada no Dragão, que vai incluir outros vídeos gravados ao longo desses 20 anos. “Você conseguir ficar 20 anos fazendo um tipo de música que vai na contramão do que é imposto, independente do reconhecimento nacional, só pelo tempo de estrada, já compensa. Muitas bandas de sucesso não duram isso tudo”.

Le son sur scène

gustavo portelaOutra participação garantida para o show dos Renegados é de Gustavo Portela. Na verdade uma troca de participações, já que o músico vai fazer o show de abertura com a participação do trio. Gustavo apresenta as faixas do seu recente Le son sur scène, segundo disco de uma carreira voltada para múltiplas linguagens.

Assim como é a produção artística de Gustavo Portela, Le son sur scène também se abre para as mais diversas possibilidades. No palco, ele mistura elementos do circo com os toques de uma banda pop, que interpreta as canções como se estivesse num teatro. As próprias composições dão o mote ao tratar de personagens cheios de personalidade e situações cotidianas.

O trabalho lançado em formato digital, e agora apresentado em formato físico, também rendeu um show intrigante, feito para encantar adultos e crianças. Para uns tem palhaço, brincadeiras e pequenos truques de mágica. Para outros, tem histórias de amor sofrido e a perversidade do assassino Toninho Beruaite. Na apresentação desse fim de semana, Gustavo Portela ainda recebe o baterista e percussionista Pantico Rocha, co-autor na faixa A visita.

Serviço:
Projeto Polifonias
Quando: sábado (21) e domingo (22), às 20h
Onde: anfiteatro do Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 2 (meia) e R$ 4 (inteira)
Outras info.: 3488.8600

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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