Nando Reis, Paulo Miklos e Tony Bellotto na turnê Titãs Encontro (Foto: Renê Lima/ Divulgação)

Um dos espetáculos mais esperados deste ano, a turnê Titãs Encontro – Todos ao mesmo tempo agora passou neste sábado, 3, por Fortaleza. Única apresentação para uma plateia que lotou o Colosso, espaço escondido pelas ruas escuras que cortam a avenida Washington Soares.

A expectativa alta era justificada. Desde 1992 a formação original dos Titãs não se reunia numa turnê pelo Brasil. Foi nesse ano que Arnaldo Antunes anunciou sua saída para cuidar da carreira solo. Daí em diante, a banda sofreu novas perdas, a começar pela trágica morte do guitarrista Marcelo Frommer (2001). Em seguida, também anunciaram a saída Nando Reis (2002), Charles Gavin (2010) e Paulo Miklos (2016).

O que antes já foram 9, ficaram três: Sérgio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello. Independente do número, os Titãs sempre foram uma usina produtiva de música. Quem saiu contruiu uma carreira sólida, respeitada e criativa. Quem ficou, segurou o barco de uma das bandas mais emblemáticas do rock dos anos 1980.

Pela média de idade que o público de Fortaleza aparentava, estavam ali fãs que acompanham o octeto há muito tempo. E que, parece, há mais tempo ainda esperavam esse reencontro. E, ao longo de pouco mais de duas horas, a banda entregou quase tudo o que se esperava dela. As danças, o revezamento dos vocais, o repertório punk, as baladas, as críticas sociais, o som cru, o peso e o discurso.

Logo na abertura, quando os músicos ficam perfilados na frente do telão, exibindo só a silhueta, a temperatura subiu. Descendo as duas escadas postas nas laterais do palco, eles traziam algo de heroico e já ficava claro que a produção daquele reencontro não estava para brincadeira. Iluminação, direção, som, marcações, tudo estava à altura do que o reencontro prometia.

Se os Titãs em si já garantiram a aura mítica do espetáculo, eles trouxeram para assumir as linhas de guitarra de Frommer o produtor e músico Liminha, uma lenda por si só. Discreto do seu papel de músico convidado, o ex-Mutantes foi anunciado sem muita pompa por Bellotto.

Aliás, Bellotto estava entre os mais felizes no palco, rindo e solando bastante. Arnaldo Antunes também não negou a felicidade de fazer parte daquilo tudo. Os demais demoraram bastante a demonstrar qualquer calor além do protocolar. Da metade pro fim, saíram alguns abraços, alguma interação, algum contato. Até ali, as marcações pareciam bem rígidas e cada um ficava “no seu quadrado”.

Arnaldo Antunes e Alice Fromer na turnê Titãs Encontro (Foto: Divulgação)

Uma nota especial e honrosa precisa ser dada à presença de Branco Mello. Após passar por uma cirurgia de retirada de um tumor, o vocalista perdeu muito de voz, mas nada do seu carisma e de sua força. Antes de cantar, ele contou sua história ao público e foi recebido por palmas. É isso, o show não pode parar.

Quanto ao repertório, aí sim não faltou calor. Para uma plateia faminta, sempre falta um ou outro sucesso. “Lado B” então, eles poderiam escolher à vontade. Mas apostaram no certeiro e deram ao público a chance de cantar junto do começo ao fim. Igreja, Polícia, Epitáfio, Comida, Marvin, Família, tudo ficava mais bonito no palco digno de um grande espetáculo. Nome aos Bois, com sua lista de figuras intragáveis da história, ganhou o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro para figurar entre Hitler, Papa Doc e o delegado Fleury. A única que pareceu deslocada do roteiro foi É preciso saber viver. Embora seja justa a homenagem a Erasmo Carlos, a música ficaria melhor no bis.

Alice Fromer, filha de Marcelo, foi convidada a cantar duas músicas em homenagem ao pai. A participação aconteceu durante um set que relembrou o sucesso do Acústico MTV. Esse momento com todos os músicos sentados com os violões no colo se justifica por ser um marco na carreira da banda, o disco que mais vendeu na história deles e um trabalho inesquecível para quem ouviu. Apesar de ser clara a intenção de atender aos fãs mais novos, o set acústico quebrou bastante o clima.

Os Titãs reunidos em show da turnê de reencontro (Foto: Marcos Hermes/ Divulgação)

De volta à eletricidade, todos retomaram seus postos e fizeram a última parte com mais vigor. Paulo Miklos chegou a puxar uma música errada – era pra ser Bichos Escrotos e ele anunciou Sonífera ilha – o que é ótimo pra um show daquele porte. Sim, porque mostra que era tudo real, feito com humanidade. O erro é exclusividade do humano, máquinas não erram.

E mais humanos do que nunca, Tony, Branco, Paulo, Nando, Sérgio, Charles, Arnaldo e Liminha deixaram antigas diferenças de lado e presentearam os fãs com um espetáculo para nunca ser esquecido. Houve quem falasse em show de nostalgia. Bobagem! A música dos Titãs é atemporal, fala do hoje e a cada novo tempo, novo mundo, novo modismo, ela se torna mais necessária.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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