A faixa título, parceria com Rafael Gryner, por exemplo, é um bem temperado afrobeat, onde a jovem de 28 anos deixa tudo claro: “posso fingir ser uma, mas eu sei que não me satisfaz”. Logo em seguida, Encanto, parceria com Diogo Cadaval, segura o ritmo para Clara seguir em frente depois que ele foi pra não mais voltar. Em clima de sambajazz, Se eu falo poderia estar tranquilamente no repertório de Elza Soares. Mas é a autora quem defende suas palavras e com muita classe.
Além de boas composições, Mil coisas conta com uma banda que merece registro. Donatinho nos teclados, Stephane San Juan na bateria, Alberto Continentino no baixo e Carlos Malta nos sopros, por exemplo. É pouco? Pois ela contou com os argentinos da Orquestra Típica Fernández Fierro para aumentar a dose de sensualidade do tango Ao cais. A única regravação de Mil coisas é Feminina, composição de Joyce Moreno que deu nome ao seu disco de 1980. Aqui, ela se justifica por se tratar de uma bandeira feminista, o que se alinha ao tom das outras letras. Ainda assim, fica claro que o disco se sustentaria se fosse 100 % autoral. Uma raridade nos dias de hoje.