Raul de Souza_crédito SILVIO AURICHIOEm meio às ruidosas atrações internacionais que estão chegando a Fortaleza nos últimos anos, uma delas merece atenção especial. Trata-se do baixista norte-americano Ron Carter, um dos músicos mais respeitados no mundo do jazz. De quinta a domingo, ele dividirá o palco da Caixa Cultural com o trombonista carioca Raul de Souza, para, juntos, celebrarem uma trajetória de mais de 60 anos de música.

Discreto e renegando qualquer elogio que lhe pareça exagerado, Ron Carter é de fato um gigante do jazz que esteve ao lado de outros muitos gigantes. O maior deles talvez tenha sido Miles Davis (1926 – 1991), com quem trabalhou nos anos 1960. Na época, o trompetista montava seu segundo quinteto – que incluía nomes como Wayne Shorter, Tony Williams e Herbie Hancock – e o baixista era um jovem músico formado pela Manhattan School of Music.

Ron Carter - divulgação -1Tendo começado a se interessar por música ainda na infância, Carter começou pelo violoncelo, mas teve que abrir mão ao perceber que o mundo erudito era muito fechado para músicos negros. Foi então que ele descobriu o baixo e criou um som bastante particular, sedoso e preciso. Daí em diante, acompanhou diversos artistas, do jazz ao pop, em mais de 2.500 gravações. Nessa lista, inclua nomes brasileiros como os de Tom Jobim, Rosa Passos e Hermeto Pascoal. “Gosto das escritas e improvisações mais melodiosas. Os caminhos que a canção faz dentro de um tema. Quanto mais interessante for o caminho melódico mais eu posso me divertir no contrabaixo”, comenta o músico, por email, sobre o que mais gosta na música brasileira.

Embora a ideia de uma turnê com Raul de Souza tenha surgido por acaso (num avião, a caminho do Festival de Jazz e Blues do Rio das Ostras), ambos se conheceram há muito tempo. “Já o conheço desde que cheguei em Nova York. Minha primeira gravação lá já foi com ele, por volta de 1974. Mas não ficamos muito amigos, por que americano não é muito chegado como nós. Demorei pra passar pelo crivo”, lembra Raul, entre risadas. Foi só na década seguinte, quando foram convidados para participar de um projeto com Flora Purim e Airto Moreira, que ficaram “mais chegados”.

Mais do que um encontro de dois mestres instrumentistas, o show de Raul de Souza, 79 anos, e Ron Carter, 76, é uma celebração aos muitos anos dedicados à música. No caso de Raul, essa história parte da adolescência, quando ele começou tocando na banda da Fábrica de Tecidos de Bangu. Em seguida, vieram os anos de gafieira, a rádio Mayrink Veiga, as primeiras gravações e turnês pela América do Norte e Europa acompanhando Sérgio Mendes. Morando parte do ano na França, ele é apontado como um dos mais importantes trombonistas do mundo. “Lembro que a primeira vez que vi o Raul de Souza tocar fiquei admirado com o swing e seu jeito melodioso de tocar. Nem sabia que ele era brasileiro. Nos cruzamos algumas vezes pelo mundo e aqui estamos, depois de uma estreia muito agradável em Curitiba”, comenta Ron Carter sobre o parceiro.

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Acompanhados de Glauco Solter (baixo elétrico), Mário Conde (guitarra), Sérgio Machado (bateria) e Fábio Torres (piano), eles apresentam na Caixa Cultural uma série de composições próprias, incluindo Encontro, escrita por Raul especialmente para a ocasião. Anfitrião do projeto, Raul comemora a boa recepção que encontra para a música instrumental brasileira no mundo inteiro. “O Brasil está com a bola toda. Na Europa, o músico europeu não tem o mesmo prestígio”, comenta, antes de revelar uma regra para esta parceria com Ron Carter. “Ele é mais novo do que eu. Tem que me respeitar”.

Serviço
Raul de Souza convida Ron Carter
Quando: quinta-feira (3) a sábado (5), às 20h; domingo (6), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 e R$ 10. À venda no local
Outras informações: 3453.2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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