Roberto-Carlos-Divulgação-02Depois de Paul McCartney, Elton John e Beyoncé, chegou a vez de um artista nacional se apresentar na Arena Castelão. E poucos poderiam assumir essa responsabilidade como Roberto Carlos. Ícone da música brasileira há mais de cinco décadas, o Rei sobe ao palco no dia 5 de abril, para única apresentação com sua já famosa orquestra. Desfilando os sucessos que marcaram tantas gerações, desde a Jovem Guarda, ele vem ainda no embalo do sucesso de Esse cara sou eu, onde afirma sem modéstia: “Está do seu lado pro que der e vier. O herói esperado por toda mulher. Esse cara sou eu”.

Mais do que cantor e compositor, Roberto Carlos é uma entidade que permeia a cultura brasileira desde o finalzinho dos anos 1950. Fã de Vicente Celestino e Silvio Caldas, o garoto de Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, cresceu impressionado pelas vozes que ouvia no rádio e logo começou querer fazer música. Quando veio a Bossa Nova, ele tornou-se um seguidor de João Gilberto, a quem imitava com perfeição. Nessa época, incentivado por Carlos Imperial, gravou dois compactos e o primeiro LP, batizado de Louco por você. Curiosamente, esse primeiro disco tornou-se um apócrifo, que o artista renega alegando pouca qualidade técnica.

No entanto, apesar da autocrítica, o disco tornou-se um artigo disputado em sebos nacionais e internacionais. Em tempos de youtube e download ilegal, também não é difícil ouvir o Rei, em seus primeiros passos, cantando roquezinhos antigos como Mr. Sandman ou o cha-cha-cha meio ingênuo Louco por você. Ainda assim, Roberto prefere considerar sua entrada na Jovem Guarda como a verdadeira estreia. Lançado em 1963, Splish splash injetou um peso maior no seu rock com doses homeopáticas de transgressão. Se bem que, para a época, beijos roubados no cinema ou carrões voando a 120 km por hora já eram suficiente para que os pais desconfiassem do jovem que reproduzia no Brasil a beatlemania britânica.

Mas até da Jovem Guarda Roberto Carlos tem suas restrições. Sucessos como Negro gato ou Que tudo mais vá pro inferno foram depois banidos do seu repertório. O motivo? O Transtorno Obsessivo Compulsivo o impede de falar palavras negativas, bem como de usar cores escuras ou entrar por uma porta e sair por outra. Também por conta do TOC, que para alguns se confunde com manias, Roberto trouxe uma série de elementos para sua carreira que se tornaram míticos. As roupas sempre em tons de azul, a mesma banda e o mesmo maestro há décadas, os poucos parceiros e as capas de discos praticamente iguais são exemplos.

Tendo há pouco tempo admitido sofrer do TOC, aos pouquinhos Roberto Carlos tenta ousar dentro do seu território. Ele já prometeu que vai voltar a cantar Quero que vá tudo pro inferno e teve que se aceitar o “amigo de fé irmão camarada” Erasmo Carlos usando preto no seu especial do fim de ano de 2013. “Ele pode”, tentou minimizar o anfitrião. Transtorno ou mania, tudo que envolve o Rei vira notícia e gera audiência. Inclusive de forma negativa, como a disputa com o jornalista Paulo César de Araújo, autor da biografia Roberto Carlos em detalhes, ou quando vegetarianos criticaram ele ter aparecido num comercial de TV comendo carne vermelha.

São ossos do ofício de quem subiu alto na carreira. Mesmo com biografias, propagandas, TOCs e narizes torcidos para seus últimos sucessos, Roberto Carlos segue como um pedaço da história brasileira. Um criador de melodias tocantes e autor de letras que marcaram gerações. Do início na bossa, passando pelo rock, soul, gospel, country e tantos outros estilos, ele chega, no próximo 19 de abril, aos 73 anos como um ídolo de milhares e um dos raros popstars de sua geração. Em meio a tantas idas e vindas, é ele mesmo quem dá o veredito. “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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