Meses antes do Dia da Criança, Palavrão chega às lojas falando sobre a professora voluptuosa, o exame de fezes e o hábito de tirar meleca do nariz. Há espaço até para um avô mal intencionado e sua pílula azul. Usando seu sarcasmo peculiar, Carlos Careqa dá a esses temas uma boa dose de bom humor politicamente incorreto. “Não gosto do politicamente correto. Também não sou a favor de uma libertinagem geral, mas não podemos regulamentar a música ou arte em geral”, defende o compositor em entrevista por email.
Mas Palavrão não se limita a uma pitada de sacanagem. Revelar os perigos da autofelação ou do troca-troca, por exemplo, é bem mais do que muitos pais estão dispostos a conversar com seus filhos. A propósito, Careqa não tem filhos, mas recebeu a aprovação da sobrinha Bia Belon, 12 anos, “candidata a atriz”, segundo o tio. A inspiração para as 13 composições de Palavrão partiu mesmo de sua criança interior, que buscou uma linguagem acessível para baixinhos e altinhos. Entre rap, reggae, rock e balada, o disco contou com reforços de Mário Manga e Márcio Nigro nos arranjos, e participações especiais de Bruna Caram e André Abujamra. O projeto de R$ 35mil foi todo financiado pelos fãs, através da plataforma Catarse.
“Como não acho que seja somente um disco infantil, ele tem apenas o objetivo de divertir as pessoas”, resume Careqa, que fugiu das lições e conselhos que normalmente permeiam os discos infantis. O assunto pedofilia, por exemplo, tangencia a faixa O diamante azul do vovô, sem deixar nenhum tipo de alerta no ar. “Achei o tema interessante. Até levemente engraçado, pois isto é uma realidade de alguns homens mais velhos. Mas não levanto nenhuma bandeira sobre o assunto. Apenas comento”, simplifica.
Com 52 anos e mais de 30 dedicados à música, Carlos Careqa ainda é um desconhecido do grande público. Apesar disso, ele acha mais interessante a carreira independente do que se sujeitar às regras da indústria. “Quero fazer o meu trabalho e quem puder ouvir que ouça. Minha produção artística não depende do sucesso. Eu quero me comunicar com mais gente é verdade, mas não dependo somente do sucesso”, explica o artista, que chegou a chamar Palavrão de “projeto suicida”, já que ninguém o contrataria para fazer shows falando de troca-troca ou masturbação. “No começo, eu pensei isto mesmo. Mas tem um nicho no Brasil que ainda pensa e quer expor estas ideias para serem discutidas na comunidade. Eu sou assim mesmo desde sempre. Gosto de caminhar no fio da navalha. Gosto do risco. Por isso faço projetos assim e vou continuar fazendo”.