Paulistana de 43 anos, Paula Lima já paquera com o samba desde seu disco de estreia solo. Lançado em 2001, É isso aí trazia a cantora, egressa do combo plural Funk Como Le Gusta, brincando com os ritmos negros dando um ar tropical ao que se chama de black music. Nesse caldeirão, o samba também entrou em versões chics temperadas pela voz maravilhosa da cantora. O resultado é dos melhores. É isso aí é um dos melhores discos de estreia lançados por uma cantora brasileira neste século.

O que veio na sequência não eram boas notícias. Os outros cinco trabalhos que vieram diluíram as boas ideias de É isso aí num caldo de clichês meio sem graça. Agora, treze anos depois, Paula Lima resolveu (ou resolveram por ela) voltar ao samba e gravar um trabalho todo dedicado ao gênero. O samba é do bem, que sai pela Radar Records, teve produção de Leandro Sapucahy e entrega suas intenções na lista de compositores. As 12 faixas inéditas vieram de nomes como Serginho Meriti, Xande de Pilares, Arlindo Cruz  e outros. Talentosos e competentes em diferentes níveis (Arlindo sendo o melhor), mas sem nenhum compromisso de fazer diferente.

Talento à parte, trata-se de um disco de samba populista. Todos os clichês usados no samba que se desenhou pós-anos 90 estão presentes em O samba é do bem. Vocais resposta, arranjos assépticos e as letras politicamente corretas cheias de mensagens estilo auto ajuda, por exemplo. Ruim, de fato, não é, mas também não é bom. O disco parece com tantos outros trabalhos de samba que têm chamado a atenção do público que frequenta a Lapa na noites de sábado. O que é um desperdício, pois Paula Lima é uma cantora de timbre inconfundível, que estreou com um trabalho primoroso.

É bem verdade que, depois de É isso aí, a paulistana nunca mais acertou a mão pra fazer um bom disco. É certo também que o refino daquele primeiro disco deve ser difícil de alcançar um grande público. Por isso, ela acabou sendo mais conhecida por trabalhos outros, como a participação em programas de TV, como o Ídolos. Sua mistura de funk, soul e samba poderia ser espetacular. Mas ficou na memória e nas discotecas de quem se ligou na época.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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