Cordas, Gonzaga e Afins 01- Fotos de Alex RibeiroUma grande expectativa cercava a apresentação de Cordas, Gonzaga e afins, novo show de Elba Ramalho, que passou no último sábado (6) pelo Centro Dragão do Mar. Mais do que um tributo, como tantos outros dedicados ao maior nome da música nordestina, o release do espetáculo prometia a paraibana eu seu estado pleno, intercalando os talentos de cantora e atriz, acompanhada do grupo instrumental de gênese erudita SaGRAMA e do quarteto de cordas Encore.

O projeto foi criado pela produtora Margot Rodrigues, com a ideia de celebrar os 35 anos de carreira fonográfica de Elba Ramalho em paralelo com a obra de Luiz Gonzaga. Por isso, Cordas, Gonzaga e afins mescla as canções do Seu Luiz com as de outros muitos compositores que fizeram parte da história da intérprete e foram iluminados pela sanfona do Rei do Baião. O resultado é um espetáculo sublime, para resumir em uma palavra. Diminuindo a intensidade do seu fogo nordestino, Elba se mostrou uma intérprete completa e emocionada, cuja voz se mantém inteira e ainda mais apurada.

A alteração de horário, das 21h para as 20h, foi ignorada pelo público que só chegou mesmo às 21h. E fez muito bem, uma vez que o show começou depois das 21h. É fato que o local escolhido para a apresentação, a Praça Verde do Dragão, tinha vantagens e desvantagens para o modelo do show. Se, por um lado, aquela arena aberta dá vontade de olhar para o céu e ver como ele está lindo, por outro é grande demais e dificultou o mergulho num espetáculo tão íntimo.

Sim, Cordas, Gonzagas e afins é um espetáculo íntimo até nos seus momentos de explosão. A festa forrozeira permeia todo o ótimo repertório, mas a ideia não é fazer o público dançar. Alguns até reclamaram disso, ou por que não entenderam a ideia ou por que não admitiam ver a “Tina Turner do sertão” deixando de lado sucessos festivos que costuraram mais de três décadas de história. Aposto mais na primeira hipótese, uma vez que o espetáculo se concentra muito na figura de Elba Ramalho, que, por várias vezes, agiu como se estivesse numa apresentação com sua banda.

O roteiro de Cordas, Gonzagas e afins promove uma viagem do sertão ao mar, contada por canções de Chico Buarque (Não sonho mais, um dos grandes destaques da noite), Caetano Veloso (O ciúme), Chico César (Beradero) e muito Luiz Gonzaga. E tudo isso embalado nos arranjos diretos e acessíveis de Sérgio Campelo, do SaGrama. Como show de uma das maiores intérpretes nacionais, o resultado é uma lindeza que tira a trajetória recente de Elba do lugar comum. Na parte teatral, algo tão alardeado, ficou devendo. Faltou algo que introduzisse o público na proposta, o que teria evitado alguns constrangimentos – não faltou quem ficasse no pé do palco pedindo Banho de cheiro.

Diante dos pedidos, Elba Ramalho, mesmo fora do programa, voltou para dar um bis. Embora a volta ao palco só tenha confundido mais o público, nesse momento, ela teve que explicar que o que havia sido apresentado era mais que um show como tantos outros da sua carreira. Ainda assim, atendeu aos pedidos de “mais um” e refez Domingo no parque, que, no roteiro, foi apresentada com falhas. “Essa a gente não ensaiou”, explicou a paraibana. Por fim, pediu um dó maior e improvisou (improviso?) o tão implorado Banho de cheiro.

Tendo sido esta uma das primeiras apresentações de Cordas, Gonzagas e afins, é fato que o roteiro ainda pode sofrer alterações e as canções melhor ensaiadas. Há espaço para mais interpretação cênica e menos show, o que exige locais adequados para o tipo de apresentação. Algo sem a pompa de um teatro, mas sem a abertura de uma grande arena. Seguindo esse caminho, Cordas, Gonzagas e afins, naturalmente, cresce nas intenções e emoções.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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