caetano_Fernando-YoungÉ de se orgulhar muito saber que Caetano Veloso vai mais uma vez representar o Brasil no 15° Grammy Latino. O compositor teve sua A bossa nova é foda, na versão lançada este ano em Abraçaço – Multishow ao vivo, indicada ao prêmio de Canção do Ano. Além dele, mais orgulho ainda merece nossa música instrumental, com destaque para Antônio Adolfo, Yamandú Costa e Hamilton de Holanda, todos concorrendo na categoria Melhor Álbum Instrumental – respectivamente por O piano de Antonio Adolfo, Continente e Caprichos.

Apenas faço uma ressalva em relação à indicação de Caetano para esta Música do Ano. É que A bossa nova é foda foi lançada há dois anos, no disco Abraçaço, e está tal e qual na versão ao vivo. Nada foi acrescentado para que merecesse uma indicação tão importante. E mais: a canção reaparece concorrendo a Melhor Canção Brasileira. Sim, por que o Grammy Latino tem um grupo de prêmios dedicados apenas à produção verde e amarela.

Apenas um fato justifica esse destaque para o mestre tropicalista. O Grammy, latino ou não, é um prêmio dedicado ao mercado de discos. Por isso, 99% dos artistas indicados estão ligados, de alguma forma, a alguma gravadora (ou seja, boa parte da produção independente está fora da questão). Sendo o Brasil o maior país da América Latina, tem também um mercado maior e um cartaz maior na premiação.

Voltando a Caetano, a indicação dupla de A bossa nova é foda para o Grammy demonstra mais a miopia da premiação do que a qualidade desta canção. Uma forma de ilustrar isso é que, dos sete indicados a Melhor Canção Brasileira, quatro foram tiradas trabalhos revisionistas.É um anacronismo notório em relação ao que se produz de música no País que deixa de lado, inclusive, selos independentes ligados a grandes gravadoras.

É claro que Caetano merece todo reconhecimento pela sua obra. Obra, por sinal, que vem sendo reconhecida quase anualmente no Grammy. Mas, nesse caso, podiam ter deixado o baiano de lado para olhar com mais cuidado para o que se produz no País.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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