capa-elis-e-tomEm 1974, Elis Regina estava completando uma década de contrato com a Philips. Como uma das grandes estrelas da gravadora, por onde tinha lançado sucessos como Vou deitar e rolar e Madalena, a cantora recebeu do produtor André Midani um presente que seria difícil avaliar em números: a oportunidade de gravar um disco com Tom Jobim. Se a escolha do parceiro partiu da gaúcha ainda é uma incógnita, mas é certo que ela tinha muita admiração pelo maestro, que naquela época vivia nos Estados Unidos à custa do sucesso internacional da Bossa Nova.

E foi por isso que o trabalho teve que ser gravado em Los Angeles,  entre 22 de fevereiro e 9 de março, no estúdio MGM. Reunir a voz mais influente do Brasil com um dos mais reconhecidos compositores do mundo não deveria ser uma tarefa fácil. Por isso ela coube ao experiente produtor Aloísio de Oliveira. Com a missão de apaziguar os egos, o ex-parceiro de Carmem Miranda teve que apagar todos os focos de incêndio. E olha que não foram poucos.

Adepto da escola clássica, Tom já começou implicando com o piano elétrico de César Camargo Mariano, responsável pelos arranjos. A vontade do maestro era que Claus Ogerman assumisse o posto. Por sorte, o alemão que orquestrou clássicos como Urubu e Matita Perê não aceitou o convite. A tensão entre a modernidade de Elis com a erudição de Tom dava sinais de que tudo iria ruir logo em breve. Para a artista, cuja fama era de passar feito um trator por cima dos desafetos, as gravações eram sempre terríveis e Tom Jobim era um chato.

Mas o Elis & Tom saiu e tornou-se um item fundamental em qualquer discoteca que se preze. Foram 14 faixas, todas de Tom Jobim com seus parceiros, que se tornaram uma das mais belas combinações de sons já feitas no mundo. Elis mediu seu canto para apostar mais na afinação do que na explosão. Tom Jobim se conformou com os arranjos elétricos de César e viu (deve ter visto) que sua bossa não estava sendo maculada.

Elis & Tom ainda rendeu um especial de TV e o clip de Águas de março, em uma versão que, para muitos, é a definitiva. Ao final desta canção, a Pimentinha brinca com o maestro de uma forma tão descontraída que muitos chegam a duvidar do clima de trincheira que se formou durante as gravações do disco. Para o bem da música, na briga entre Elis Regina e Tom Jobim ninguém saiu perdendo.

https://www.youtube.com/watch?v=W6hEHSy_J3g

Faixas de Elis & Tom (1974):
1. Águas de março (Tom Jobim)
2. Pois é (Chico Buarque/ Tom Jobim)
3. Só tinha de ser com você (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira)
4. Modinha (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
5. Triste (Tom Jobim)
6. Corcovado (Tom Jobim)
7. O que tinha de ser (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
8. Retrato em branco e preto (Chico Buarque/ Tom Jobim)
9. Brigas, nunca mais (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
10. Por toda a minha vida (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
11. Fotografia (Tom Jobim)
12. Soneto da separação (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
13. Chovendo na roseira (Tom Jobim)
14. Inútil paisagem (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira)

>> Por toda a minha vida (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) por Carlus Campos

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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