Socorro Lira – Amazônia: entre águas e desertos (independente)
Filha da zona rural paraibana, Socorro Lira cresceu entre banhos de açude, caça e pesca com os irmãos. Essa vivência interiorana cruza as 14 faixas do novo disco da artista. Produção própria com arranjos de Jorge Ribbas, Amazôniaé uma seleção de delicadezas sonoras que se adequam bem à voz curta da cantora e compositora. Com percussões econômicas, violões discretos e breves balanços aqui e acolá, o disco versa sobre as belezas das matas brasileiras. A capa, apesar de estranha, embala bem essa ideia. Ao lado de Socorro Lira, artistas do cacife de Ubaldo Versolato, Fausto Papete e Oswaldinho do Acordeom.
Jurema – Mestiça
Historiadora, cantora e compositora, Jurema Paes se interessa pelos sons africanos e seus batuques mais ancestrais. No entanto, esse elemento percussivo aparece apenas nas intenções de Mestiça, segundo disco da artista lançado pela Saravá Discos. Limpando qualquer excesso e se concentrando numa estética experimental, a baiana faz samba de roda psicodélico focado em guitarras e viagens eletrônicas. Com canções de Elomar, Zeca Baleiro, Tiganá Santana e Roberto Mendes, o disco tem momentos sedutores e outros nem tanto. Para quem gosta de clima, Elizabeth noon pode ser uma boa pedida.
Tatá Aeroplano – Na loucura & na lucidez
Um dos nomes mais celebrados na MPB Indie, Tatá Aeroplano está de volta com mais um disco feito de próprio punho. Espécie de delírio de início e fim de relacionamento, o álbum traz apenas oito faixas que estendem por mais de 40 minutos. A produção dos cearenses Júnior Boca e Dustan Gallas busca explorar ao máximo a intenção de cada faixa. Por isso, Na loucura & na lucidez tem as viagens alucinadas de Na loucura, o bolero eletrônico Mulher abismo e o rock jovemguardiano Entregue a Dionísio. Nessas e nas outras, o filé está em letras tratando de bebedeiras, sexo casual, noitadas e fumaças de cigarro (seja ele qual for). Mais louco que lúcido, o segundo disco de Aeroplanocresce a cada audição, mas revela um artista ainda em construção. Que venham outros.
Matheus von Kruger – Vagalume
Baiano de nascença, Matheus cresceu entre o Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e Nova Zelândia. Depois de fazer algum nome como vocalista do bloco carnavalesco Bangalafumenga, o cantor e compositor agora apresenta seu primeiro trabalho solo. Sem apostar em um nicho em particular, Vagalumevai do balanço black de Viver o dom à africanidade pálida de Sempre tem céu azul. Cada canção transporta o ouvinte para um ambiente, o que pode parecer interessante, mas também revela uma falta de norte. Mesmo cercados de instrumentais interessantes e arranjos criativos, o que dificulta a viagem é a voz excessivamente branda do cantor. Baladas como Leva e traz, numa voz mais encorpada, deve revelar outras cores.
Lucas Santtana – Sobre noites e dias
Com bom trânsito entre a MPB mais ilustrada e os novos artistas brasileiros, Lucas Santanna é apontado como um filho direto do tropicalismo. Moderno de carteirinha, ele gosta de misturar línguas e linguagens em seus discos. Neste sexto trabalho, a proposta segue firme. Entre loops e cordas, o baiano faz música moderninha com pouco compromisso formal. Sua vontade é experimentar sempre. Às vezes, como em Montanha russa sentimental e Alguém assopra ela (lindíssima), ele acerta bem. Em outras, como em Human time, tudo soa como um momento particular com o próprio umbigo. A propósito, o projeto gráfico é belíssimo e vai ficar melhor ainda na edição em LP.
Zé Ricardo – 7 vidas
Verdadeiro operário da música, Zé Ricardo canta, toca, compõe e encabeça projetos variados. Entre eles, dirige o programa Música Boa Ao Vivo (Multishow) e comanda o palco Sunset, responsável pelas fusões variadas do Rock In Rio. Em meio a tudo isso, ele ainda arranja tempo aqui e acolá para aumentar sua discografia. O mais novo filho dessa lavra é 7 Vidas(Warner), que acaba de chegar às lojas. O som é abrasileirado com um pé na modernidade mais careta. Nada surpreendente. Das 10 faixas, oito são só de ZR, uma é parceria com Gabriel, o Pensador e outra é um cover de Djavan (Azul). Embora não comprometa, a audição de 7 vidas também não empolga.
Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.