05)GonzagacomHumbertoTexeira_DummontA convite do O POVO, cantores, compositores e músicos nordestinos mostraram o quanto Humberto Teixeira, cujo centenário se completou no dia 5 de janeiro, marcou a música brasileira. Sozinho ou ao lado de Luiz Gonzaga, o cearense de Iguatu deu voz ao povo nordestino através de um novo ritmo cheio de vida. Acompanhe o que os filhos artísticos do compositor de No meu pé de serra dizem do mestre:

Geraldo Azevedo, compositor pernambucano

geraldo“O legado de Humberto Teixeira, antes de tudo, se estende ao de Luiz Gonzaga, porque eu não consigo ver Humberto Teixeira sem Luiz Gonzaga. Está muito atrelado um na vida do outro, foram parceiros muito importantes. Essa estória é muito grandiosa, pelo começo de uma nova música que abriu o nordeste, dando um espaço muito grande ao povo nordestino, de uma forma muito mais ampla, porque Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira cantaram sobre tudo, cantaram o nordeste. Eles fizeram o maior clássico da música brasileira, Asa Branca, uma coisa fantástica. Cheguei a ver o filme feito pela filha dele, maravilhoso, né: O homem que engarrafava nuvens. Então, Humberto tem uma história muito grandiosa na música brasileira e a gente tem realmente que homenageá-lo, sempre, não só no centenário, mas durante a vida inteira. Ele deixou uma grande marca na música brasileira”

Chico César, compositor paraibano

chico“O legado de Humberto Teixeira é o baião, compreendido aí não apenas como o ritmo, mas como uma cosmovisão do nordestino urbano, sobre nós mesmos, uma autoimagem. Digo nordestino urbano pois Humberto Teixeira é o profissional liberal, doutor advogado, ligado conscientemente å construção de nosso imaginário, fazendo o contraponto com Luiz Gonzaga. Esse sim um intuitivo telúrico, mas que abarca a cidade e o campo e sendo por ele abraçado. Mas, ao abraçarmos Gonzaga, muitas vezes sem nos darmos conta, também abraçamos o doutor Humberto, suas ideias e a estruturação delas em forma de letra de música. Os voos de ida e de volta da “Asa Branca” e sua explanação de “como se dança o baião”, entre outras inúmeras letras e canções só dele inclusive, dão pistas muito certeiras do que é o ser nordestino e criam talvez uma síntese possível de nossa cosmogonia e de nosso movimento humano na terra Brasil”.

Zeca Baleiro, compositor maranhense

zeca-baleiro-divulgacao“Humberto Teixeira trouxe excelência poética pra música nordestina, como nunca dantes visto. Temos (e tivemos) grandes poetas da canção made in Nordeste, mas o refinamento estilístico de Humberto mudou tudo. Ampliou as fronteiras da “letra de música”. É dos maiores”.

 

Wado, compositor catarinense criado em Alagoas

wado​“Humberto é um compositor que retrata e dá voz a um Brasil imenso que é o Brasil de dentro, o Brasil é muito mais que o litoral, foi ele quem melhor moldou a noção que temos de povo sertanejo, sua força e agruras, por conta de sua parceria com Luiz Gonzaga. Seu interesses e talentos eram imensos, sujeito erudito, e de múltiplos focos, foi advogado, deputado e grande criador”.​

 

Jurema Paes, cantora, compositora e historiadora baiana
jurema-paes“Humberto Teixeira é um dos nosso brasileiros imortais, construtores/inventores de uma imagem recorte de Brasil nordeste para os brasileiros e para o mundo no século XX. Pelo viés nordestino, ao lado do rei do Baião, Luiz Gonzaga, Humberto mostrou como dançar o baião, articulou poesia/música ao suporte rádio fazendo do baião urbano um gênero/dança/ritmo pop. O baião estilizado por ele e Gonzaga é uma amalgamação que teve como referências a poesia de cordel, o balanceio (ritmo), a batida da viola executada pelos cantadores repentistas nos momentos de intervalo do canto e blue notes antropofágicos, na arribada de confluências mestiças. Dentre tantos ritmos compositivos da cultura brasileira, o baião via rádio conectou nordeste e sudeste, virando um dos ritmos pilares​,​ assim como o samba​, da cultura nacional. Humberto trouxe em Asa Branca, composição de sons e palavras, paisagens sonoras em poética de fauna e flora nordestina onde as questões climáticas estavam alinhavadas ao processo migratório da ave e da população que descia para o sudeste por conta da seca. Poetizou os olhos verdes de Kalu e qual moça não queria ser Kalu e pousar os olhos verdes na alma poética desse homem brilhante”.

Nonato Luiz, violonista cearense

nonato“É uma sumidade da nossa música, não só nordestina. A obra dele é muito significativa, não só nas palavras. Ele também fazia muitas coisas musicalmente e deixou uma obra fantástica. Eu já tinha feito muitas coisas com a obra dele com Luiz Gonzaga, mas no (disco) Baião erudito o destaque foi dado a ele. O Humberto tem uma força muito grande na nossa música e influenciou muita gente. Acredito que por muitos anos vai deixar influências para as pessoas. Ele era muito caprichoso e se preocupava muito com a questão dos direitos autorais. Era um cara completo, no sentido de música e de proteger nós compositores. Uma vez, assisti um show do Sivuca, na sala Funarte, e ele estava na plateia. Foi logo que cheguei ao Rio de Janeiro. Vi a figura. A vontade de conversar com ele foi grande e o vi trocando ideias com o parceiro (Sivuca) no camarim. Tive vontade de ter trocado mais ideias, mas eu estava chegando e mal conhecia o Sivuca (pessoalmente). Ele até conheceu meu trabalho, mas o tempo ficou curto por que ele morreu logo depois. Mas ele soube do meu nome e isso terminou com essa minha vontade de gravar a obra. Garimpai mais a obra dele para faze-la ficar violonística”.

Rita Benneditto, cantora maranhense

rita_ribeiro02Eu conheço o Humberto através da obra do Luiz Gonzaga, por que ele é o principal letrista. Conheci a filha dele (Denise Dumont), que fez um tributo (Doutor do Baião, 2003), que eu participei cantando “Sinfonia do café”. A música foi sugestão do diretor, que achou que a música tinha a ver com minha voz. Realmente, foi uma música que me instigou. O arranjo do Wagner Tiso é erudito, lírico, e foi uma oportunidade de mostrar a cantora lírica que eu sou, como de fazer uma exaltação desse Brasil do café. Foi uma experiência fantástica. Foi uma experiência particular por ser uma artista distante da minha geração. Na verdade, ele (Humberto) talvez nem seja tão reverenciado quanto o Luiz, embora tenha a mesma importância. Por ele não ser intérprete, não teve a mesma força. Eu tenho uma grande admiração e ele influenciou a maioria dos compositores brasileiros, principalmente nordestinos. De alguma forma e de maneira constante, eles ouviram a música dele ao longo de suas carreiras. Pra muitas pessoas, ele ainda é a figura que ficou nos bastidores da obra de Luiz Gonzaga, onde, na verdade, ele é matriz. Esse trabalho de trazer a figura dele mais à tona é muito importante para que as pessoas saibam quem foi, de fato, Humberto Teixeira.

Lenine, compositor pernambucano

lenine1“Humberto Teixeira, junto com Gonzaga, concretizou a música nordestina. O baião é criação dos dois. Por isso eu gosto tanto de baião de dois”

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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