Lançando primeiro no Japão, Silêncio é resultado das sessões apresentadas no filme Ensaio sobre o silêncio, de Zeca Barreto. No documentário apresentado no Canal Brasil, o cantor paulistano se encontra com o violonista Edson Alves e com o soprista Nailor Proveta (que toca saxofone e clarinete no disco) para dar novas interpretações ao repertório menos badalado de João Gilberto. Fugindo de Chega de saudade ou Desafinado, o registro descortina novas sutilezas para O grande amor (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), Farolito (Agustin Lara), Eu sambo mesmo e outras.
Por telefone, Renato não nega que, em muitos momentos, sua voz se aproxima bastante do registro sussurrado de João. Dono de uma das melhores vozes de sua geração, a sugestão de segurar mais os agudos e vasculhar outros ambientes vocais foi de Dori Caymmi, a quem o intérprete trata como “padrinho” e “pai” artístico. Quando o cantor foi gravar Eu não existo sem você no disco História antiga (1998), o filho de Dorival pediu que ele cantasse três tons abaixo. “Foi um grande conselho e comecei a gostar de cantar no grave”, comenta o cantor que manteve o tom em Silêncio. “Gravei num tom mais baixo para me aproximar da estética do João, me sentir um pouquinho mais perto dele. Chegar perto mesmo, dar esse abraço afetuoso”, celebra.
Foi também com o critério do afeto que Renato, Edson e Nailor escolheram as 14 faixas de Silêncio. O samba Louco (Henrique de Almeida/ Wilson Baptista), por exemplo, é a música preferida de Homero Ferreira e entrou como uma homenagem ao compositor de marchinhas falecido em fevereiro deste ano. Passando ainda pelo bolero Besame mucho (Consuelo Velásquez), Silêncio traz a tona canções que podem ter passado despercebidas nos discos de João, que, apesar de cruzarem sete décadas, são poucos. “Eu acho o João a verticalização da música. Enquanto todo mundo pensa na extensão do repertório, ele vai diminuindo, depurando a forma de interpretar. Tem coisa que ele já nem canta mais”, define Renato Braz.