DVD Vanessa da Mata - Foto: Leo AversaNo ano que a axé music completa 30 anos, uma das principais representantes do gênero decidiu mudar o tom do seu carnaval. Em Para Gil & Caetano, Margareth Menezes reverencia os mestres tropicalistas que ela admira desde os tempos em que planejava ser atriz. Lançado pela coleção Canal Brasil em parceria com a gravadora Coqueiro Verde, o show eletroacústico foi registrado em maio de 2014, no Rio de Janeiro, com direito a convidados especiais, incluindo os homenageados, iluminação e cenários inspirados.

Por telefone, Margareth Menezes lembra que Fortaleza foi uma das primeiras cidades a conferir o tributo, quando ele ainda mal engatinhava. “Esse trabalho surgiu em 2012, num show que fiz para homenagear os 70 anos dos dois. Nem tinha a perspectiva de gravar”, lembra a baiana que só pensava em aproveitar as datas que conseguiu para o Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Pouco depois, veio o convite para trazer a apresentação para a Praça Verde do Centro Dragão do Mar, no encerramento do V Festival UFC de Cultura. “Foi um teste, já que saí de um lugar pequeno para um lugar de seis ou sete mil pessoas. Foi o que me fez ter uma boa expectativa para este trabalho”, avalia.

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Lançado em CD e DVD, Para Gil e Caetano oferece sensações diferentes de acordo com a mídia. Em vídeo, o repertório começa pra cima, com O quereres, Reconvexo e Eclipse oculto (esta com participação honesta de Saulo Fernandes). Exclusivo entre as 24 faixas do DVD, o diretor musical Alexandre Leão faz um dispensável solo “som de barzinho” em Força estranha e Meu bem, meu mal. Já no CD, Margareth começa arrebatando na releitura blueseira de Como 2 e 2. O canto forte surpreendeu até a própria intérprete. “Cantei com uma dor. Hoje, eu me assusto quando ouço. Que porra é essa? Me dá um negócio estranho”, comenta.

Gil e Caetano comparecem para cantar, respectivamente, Deixar você e Luz do sol. O filho de Canô tinha show no dia da gravação, logo teve que registrar sua participação em estúdio. Já Gilberto Gil está no palco de Margareth para a reunião de família com os filhos Bem e Preta Gil, e o afilhado Moreno Veloso, filho de Caetano. Outro convidado de Para Gil & Caetano é a baiana Rosa Passos, colocando sua afinação impecável na autoexplicativa Eu vim da Bahia. “Aprendo muito ouvindo a Rosa e procurei estar à altura. Tanto que, no ensaio, eu cantei de um jeito e na hora da gravação mudei, por que queria que ela cantasse mais”, lembra.

Como o tempo entre o convite do Rival e a realização do show foi pequena, Margareth apostou no próprio feeling para montar a homenagem. A escolha de repertório, principalmente. “Fui pegando coisas que tinham a ver comigo, com o meu momento. Coisas que eu gostava de cantar e dançar, coisas reflexivas”, explica a cantora de 52 anos, que reuniu um pequeno núcleo de músicos formado por Adail Scarpelini (guitarra e ukelele), Alexandre Leão (violão), Daniela Penna e Guto Messias (percussões). Cercada de poucos elementos, Margareth Menezes deixa sua voz desfilar entre arranjos cheios de leveza e balanço. Impondo personalidade e graves corpulentos, ela reorienta o Carnaval e confirma que seu canto vai muito além do trio elétrico.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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