Apesar do clima cool e elegante do disco, a seleção de repertório deixa Made in Brazil abaixo do seu antecessor quando o assunto é surpresa boa. Se The thought of you soava corajoso como um tributo a Chet Baker, este 24º álbum da cantora e pianista brasileira sofre com inúmeras comparações. E já começa com a releitura na base do “freio de mão puxado” para Aquarela do Brasil – curiosa e erradamente creditada como Brasil. Não sei se este é o nome que o clássico de Ary Barroso recebeu no exterior, mas, em se tratando de um disco nacional, nada justifica a mudança de nome deste hino brasileiro. Com vocais espetaculosos do Take 6, Águas de março também não surpreende e parece querer soar forçadamente como novidade. Também de Tom Jobim, o pot-pourri de Este seu olhar e Só em teus braços (creditada como Promessas) soa protocolar.
Frequentemente comparada com Diana Krall (muitos dizem, por pura ignorância, que é imitação), Eliane Elias parece levar seu reencontro com o Brasil com medo de soar muito jazz ou tentando ser melhor aceita por seus conterrâneos. Por isso, a releitura mansa de Rio soa não mais do que correta. Há alguma sedução na voz experiente da paulistana, mas falta um tempero que faça o ouvinte não correr para os discos de Leny Andrade. O mesmo acontece em No tabuleiro da baiana, comportada demais.
É aí que entra o repertório autoral de Made in Brazil, bem melhor que as regravações. Searching e Some enchanted place valem cada segundo de audição por revelar a verdadeira vocação e Eliane. Como cara de clube de jazz esfumaçado e com sons de taças de drinks batendo, as faixas estão ao lado de Incendiando e Driving ambition como boas surpresas. Já Vida (If not you), com clima de novela das seis, conta com um deslocado Ed Motta, que não mostra a que veio. Embora a introdução pareça um plágio de Feeling (ou é um plágio?), A sorte do amor mostra que a cantora e compositora pode mais do que mostra como intérprete.