9NJmSfxWUm dos papeis mais controversos que um jornalista que lida com cultura pode assumir é de crítico. Se for crítico literário, vão sempre dizer que trata-se de um escritor frustrado. Se for crítico de músico, um músico frustrado. A afirmação pode ser verdadeira, mas não é regra (comigo, só é verdadeira em partes). Confesso que nem gosto do termo “crítico de música”. Prefiro dizer que sou jornalista, colecionador de músicas e ouvinte frequente e atento. Ser crítico é só uma consequência desses três elementos.

O fato é que, para muitos, o bom de ser crítico é apontar falhas, de preferência com o máximo de acidez e ironia. Jovens com o poder dos blogs e facebooks nas mãos, então, esfregam as mãos com ansiedade e injetam os olhos de sangue quando pegam um disco (sim, eles ainda existem) indefeso na mão. Já gostei desse papel, mas, hoje, evito. Prefiro a análise séria, uma vez que imagino o trabalho e o orgulho que os autores das canções tenham por suas produções (por mais capengas que elas possam parecer).

Enfim, todo esse preâmbulo é para comentar um fato muito interessante que me aconteceu na última semana. Há alguns meses, aproveitei um tempo livre para comentar alguns discos que havia recebido. Entre eles, estava o da cantora carioca Guidi Vieira, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Admito que o álbum, Temperos, não me impressionou e tentei expressar isso da melhor forma possível. Eis que me surpreendi, na última sexta-feira, 7, com uma mensagem in box da própria Guidi informando que ela havia feito uma crítica à minha crítica em seu blog.

Que maravilha me deparar com esse espelho, saber como minha crítica foi analisada pelo artista. Numa troca de gentilezas, ambos nos compreendemos, trocamos ideias rápidas e vimos que concordamos em muitos pontos. Adorei a experiência. Ao contrário do que se possa pensar, o crítico musical não sabe tudo de música e não tem uma opinião absoluta. Ele tem apenas a própria opinião, e ela só vale se for bem defendida. Não sei se esse é o meu caso. Mas, podem ter certeza, é o que busco neste espaço tão livre.

Para encerrar, vale lembrar que música – seja embalada em CD, LP, MP3 ou streaming – é arte e, como tal, mexe com sensibilidades, emoções e leituras de mundo. O que toca alguém hoje, pode não tocar amanhã. O que não emocionou hoje, pode vir a emocionar em outra ocasião. O que não vale é perder a ternura. Obrigado, Guidi por temperar assim o meu humilde blog.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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