f156e7995d521f30e6c59a3d6c75e1e5203Dois elementos, em especial, sempre foram presentes na obra de Chico Cesar. Um deles é o cuidado com a poesia, o tratamento dado às letras. O outro é o olhar cuidadoso sobre questões sociais, temas que precisam ser questionados. É dessa pluralidade que saíram canções como a mântrica Templo e a hilária Odeio rodeio. Essa dualidade ficou ainda mais clara em Estado de poesia, novo disco do compositor que se apresentou em Fortaleza há 15 dias.

Estado de poesia chega sete anos depois de Francisco, forró y frevo, trabalho de inéditas lançado por Chico César em 2008. Em seguida, o compositor foi convidado para assumir a presidência da Fundação Cultural de João Pessoa e, depois, a Secretaria de Cultura de Cultura, da qual foi o primeiro gestor. “Nessa época, diminuí a agenda de shows, por que me neguei a fazer shows durante a semana e a fazer shows na Paraíba. Preferi separar as coisas”, lembra o músico que, até assumir a nova rotina, se viu sem tempo para as canções.

1433203996442À medida que o trabalho de gestor foi se tornando mais rotineiro, ele foi voltando ao violão e surgiram canções como Patchuli, Felicidade e Saudade, lançadas, respectivamente, por Elba Ramalho, Marcelo Jeneci e Maria Bethânia. E foi esta última que abriu as portas do que seria o novo disco de Chico César. Voltando a encomendar canções ao amigo para um novo álbum, a baiana recebeu Estado de poesia, um atestado da reverência que a intérprete e o compositor têm pela poesia. “Com o tempo, fui sentindo a fibra da musculatura daquelas canções, muitas já inspiradas pelo amor, por eu estar apaixonado pela Barbara Santos, uma atriz com quem eu comecei a namorar. Era uma poesia que tematizava a liberdade”, revela.

Para o paraibano, a canção-título resume bem a proposta do seu 12º disco. Como se tivesse um lado A, as primeiras canções falam de um amor de uma pessoa para outra. No que seria o lado B, estão músicas que, nas palavras do autor, falam de “um amor social, coletivo”. No primeiro bloco, o baião pop Caninana e a apaixonada Da taça. No segundo, ele dispara contra o preconceito racial (Negão) e os desmandos da cidade grande (No Sumaré). Ainda neste segundo bloco, está a dylanesca Reis do agronegócio, com seus 11 minutos de crítica direta e feroz. “Não acho que há tema tabu. Há quem pense que estou me metendo numa seara que não é minha, mas eu tamatizo o que me dá na telha”, adianta ele que já cantou esta última em acampamento sem-terra, manifestação indígena e na Câmara dos Deputados.

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Para Chico César, tratar de agronegócio e amor em um mesmo disco é seu papel como compositor. E com a mesma atenção, ele acompanha o turbilhão de manifestações que acontecem no Brasil e se mostra preocupado. “Ao lutarmos pela democracia, talvez não contássemos que estávamos abrindo um portal para posições tão fascistas, que pedem a eliminação física de uma pessoa, que pedem que as pessoas de menos de 16 anos sejam penalizadas. As pessoas que estão indo para as ruas babando, com raiva. Sou da turma que não quer que tenha golpe. Temos que ter cuidado e temos que defender, nem é o governo, é a democracia”, destaca.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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