Estado de poesia chega sete anos depois de Francisco, forró y frevo, trabalho de inéditas lançado por Chico César em 2008. Em seguida, o compositor foi convidado para assumir a presidência da Fundação Cultural de João Pessoa e, depois, a Secretaria de Cultura de Cultura, da qual foi o primeiro gestor. “Nessa época, diminuí a agenda de shows, por que me neguei a fazer shows durante a semana e a fazer shows na Paraíba. Preferi separar as coisas”, lembra o músico que, até assumir a nova rotina, se viu sem tempo para as canções.
Para o paraibano, a canção-título resume bem a proposta do seu 12º disco. Como se tivesse um lado A, as primeiras canções falam de um amor de uma pessoa para outra. No que seria o lado B, estão músicas que, nas palavras do autor, falam de “um amor social, coletivo”. No primeiro bloco, o baião pop Caninana e a apaixonada Da taça. No segundo, ele dispara contra o preconceito racial (Negão) e os desmandos da cidade grande (No Sumaré). Ainda neste segundo bloco, está a dylanesca Reis do agronegócio, com seus 11 minutos de crítica direta e feroz. “Não acho que há tema tabu. Há quem pense que estou me metendo numa seara que não é minha, mas eu tamatizo o que me dá na telha”, adianta ele que já cantou esta última em acampamento sem-terra, manifestação indígena e na Câmara dos Deputados.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=hbN_EPR8e7w[/youtube]Para Chico César, tratar de agronegócio e amor em um mesmo disco é seu papel como compositor. E com a mesma atenção, ele acompanha o turbilhão de manifestações que acontecem no Brasil e se mostra preocupado. “Ao lutarmos pela democracia, talvez não contássemos que estávamos abrindo um portal para posições tão fascistas, que pedem a eliminação física de uma pessoa, que pedem que as pessoas de menos de 16 anos sejam penalizadas. As pessoas que estão indo para as ruas babando, com raiva. Sou da turma que não quer que tenha golpe. Temos que ter cuidado e temos que defender, nem é o governo, é a democracia”, destaca.