grammy_awardMais uma vez, o Brasil marca sua presença na lista dos indicados ao Grammy Latino. E, mais uma vez, só vão ganhar os nomes mais populistas. De fato, o prêmio é da indústria, não, necessariamente, da qualidade. Ainda, a honraria deve ser bastante celebrada entre indicados e vencedores. Se o prêmio fosse dado por mim, Noel, Preto e Branco, de Valéria Lobão, já comentado por aqui, que concorre a melhor projeto gráfico, poderia ser o melhor em qualquer outro assunto, disco, música, cantor e o escambau.

Mas, não é assim que funciona o prêmio. Por isso, você só vai ouvir falar em Tulipa e Vitrola Sintética, que estão nas concorrências mais acirradas. O Vitrola não conheço e a conheço, gosto e acho que merece muitas palmas. Mãs, não só ela. Siga abaixo outras presenças do Brasil, direta ou indiretamente, na premiação que acontece dia 19 de novembro em Las Vegas (um prêmio latino?!). Claro, os indicados e os comentários.

> Melhor álbum de MPB
Dorival Caymmi – Centenário Caymmi
Maria Bethânia – Meus Quintais
Maria Gadu – Guelã
Lenine – Carbono
Ivan Lins – América Brasil

Maria Gadu lançou seu melhor disco ao trocar o violão pela guitarra. Guelã renovou, de verdade, a carreira da cantora e deve figurar na lista dos melhores do ano. Carbono tinha a mesma proposta, mas não empolga tanto. Ivan Lins decepciona em regravações apáticas, enquanto Bethânia faz seu mais do mesmo bonito. O de Dorival também não empolga. Entreguem o prêmio para a Gadu, por favor.

> Melhor álbum de música cristã
Fernanda Brum – A Eternidade
Anderson Freire – Ao Vivo
Jane Gomes – Nele Posso Tudo
Bruna Karla – Como Água
William Nascimento – Não Vou Resistir

Tô fora.

> Melhor álbum pop contemporâneo brasileiro:
JAMZ – Insano
Seu Jorge – Músicas para Churrasco Vol. 2
Onze20 – Vida Loka
Tulipa Ruiz – Dancê
Jonas Sá – Blam! Blam!

Seu Jorge joga pra plateia mais uma vez e decepciona. Já Tulipa temperou seu balanço e lançou um disco muito bacana. Jonas Sá apostou no conceitual e lançou um disco que precisa ser degustado em compassadas garfadas. Entre Tulipa e Jonas, não saberia a quem dar prêmio, mas escolheria ele pela coragem de falar em disco conceitual em tempos de download.

> Melhor álbum de rock brasileiro
Banda do Mar – Banda do Mar
Humberto Gessinger – Insular Ao Vivo
Malia – Supernova
Pato Fu – Não Para pra Pensar
Suricato – Sol-te

Nenhum concorrente é de fato o melhor do ano. Mas, quem merece é a Banda do Mar pela boa combinação de pop e rock. Podem jogar pedras, mas não dá pra não cantar junto. Poderia ser o Pato Fu, mas não é. O novo disco ficou bom, mas ainda não mostrou a que veio. 

> Melhor álbum de samba e pagode
Nilze Carvalho – Verde Amarelo Negro Anil
Arlindo Cruz – Herança Popular
Fundo de Quintal – Só Felicidade
Mart´nália – Em Samba A Vivo
Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda – Bossa Negra
Zeca Pagodinho – Ser Humano
Sorriso Maroto – Sorriso Eu Gosto – Ao Vivo no Maracanãzinho

Mart’nália decepcionou num disco fraco e populista. Nilze Carvalho tem estilo, mas ainda falta experiência para uma aventura solo. Zeca se repete a cada novo trabalho. Arlindo Cruz mereceria o prêmio não fosse o excelente Bossa Negra. Espero que Hamilton e Diogo já estejam pensando em um novo volume.

> Melhor álbum de música sertaneja
Jorge e Mateus – Os Anjos Cantam
Leonardo e Eduardo Costa – Cabaré
Renato Teixeira e Sergio reis – Amizade Sincera 2
Michel Teló – Bem Sertanejo
Vitor & Leo – Irmãos

Lembrei de Lulu Santos…

> Melhor canção brasileira
Bossa Negra – Diogo Nogueira, Hamilton de Holanda, Marcos Portinari (compositores)
Diz pra Mim – Bruno Boncini
Mais Ninguém – Mallu Magalhães (compositora)
Simples Assim – Dudu Falcão e Lenine (compositores)
Tudo – Adriana Calcanhoto e Bebel Gilberto (compositoras)

Todas as palmas para Bossa Negra, álbum ou música. Todas as palmas…

> Melhor artista revelação:
Kaay
Iván “Melón” Lewis
Manu Manzo
Matisse
Monsieur Periné
Julieta Rada
Tulipa Ruiz
Raquel Sofía
Vázquez Sounds
Vitrola Sintética

Não conheço os concorrentes internacionais nem o Vitrola Sintética, mas Tulipa não é revelação. Já gravou três discos e tem história para contar. Mas, se o mercado latino ainda não a conhece, deem o prêmio que ela merece.

> Melhor álbum instrumental:
Tema – Antonio Adolfo
Triology – Chick Corea Trio
Dr. Ed Calle Presents Mamblue – Ed Calle & Mamblue
Brazilian Nights – Kenny G
Camino – Gustavo Santaolalla

Fujam do Kenny G e corram para ouvir o Antonio Adolfo. Não conheço o disco, mas sei que é bom. Por quê? Simples, por que tudo dele é bom!

> Melhor álbum de música flamenca:
Andando – Joselito Acedo
Sinergia – Argentina
Bendito – Blas Córdoba “El Kejío” & Chano Domínguez
Amar En Paz – Estrella Morente & Niño Josele
Sonetos Y Poemas Para La Libertad – Miguel Poveda
conSentido – María Toledo
Entre 20 Aguas: A La Música De Paco De Lucía – Vários Artistas

Não conheço os concorrentes, mas vale registrar que Amor en Paz é uma homenagem à música brasileira e surpreende ao não se prender à bossa nova. O disco é bem bonito.

> Melhor projeto gráfico:
Blam! Blam! – Julia Rocha, art director (Jonas Sá)
Este Instante – Natalia Ayala, Carlos Dussan Gómez & Juliana Jaramillo, art directors (Marta Gómez)
Noel Rosa, Preto E Branco – Anna Amendola, art director (Valéria Lobão)
Tajo Abierto – Pablo González & Francisca Valenzuela, art directors (Francisca Valenzuela)
Veinte Años El Grito Después – Laura Varsky, art director (Catupecu Machu)

O projeto do Jonas Sá é ousado e até gerou polêmica em sites de streaming. Mas, o disco da Valéria Lobão é tão bonito que merece todos os prêmios. Até os que não mereceria de fato. Vale Empate?

> Melhor álbum de engenharia de gravação:
Astrid Asher – Salome Limón, engineer; Caco Refojo, mixer; Caco Refojo, mastering engineer (Astrid Asher)
Baile Do Almeidinha – Daniel Musy, engineer; Daniel Musy, mixer; Andre Dias, mastering engineer (Hamilton de Holanda)
Hasta La Raíz – Andrés Borda, Eduardo Del Águila, Demián Nava, Alan Ortiz Grande, Alan Saucedo & Sebastián Schunt, engineers; Eduardo Del Águila & Cesar Sogbe, mixers; José Blanco, mastering engineer (Natalia Lafourcade)
Made In Brazil – Jonathan Allen & Rodrigo De Castro Lopes, engineers; Pete Karam, mixer; Paul Blakemore, mastering engineer (Eliane Elias)
Sintético – Otávio Carvalho, engineer; Otávio Carvalho, mixer; Felipe Tichauer, mastering engineer (Vitrola Sintética)

Não entendo, de fato, o que é engenharia de gravação. Mas tem três brasileiros no páreo: Eliane Elias, Hamilton de Holanda e Vitrola Sintética. Que vença o melhor, desde que o melhor seja um desses três. Obs.: conheci o trabalho da Natalia Lafourcade e gostei muito. Boa sorte para ela.

> Produtor do ano:
Mario Adnet, Dori Caymmi – Caymmi Centenário (Dorival Caymmi)
Aníbal Kerpel, Gustavo Santaolalla – Camino (Gustavo Santaolalla)
Sebastian Krys – Amiga (Comisario Pantera), De Lejos (Raida Pita), El Porvenir (Marlango), Sirope (Alejandro Sanz)
George Noriega – Aquila (Pedro Capó), Cama Incendiada (Maná), Primera Fila Hecho Realidad (Ha-Ash), Te Quiero Los Domingos (Raquel Sofia) e Ya Es Muy Tarde (Yuridia)
Kenny O’brien, Manuel Quijano – Orígenes: El Bolero Volumen 3 (Café Quijano)
Andrés Saavedra – Agridulce (Raquel Sofía), Big Bang (Siam), Espectacular (Aaron Emanuel), Give Me More (Atellagali), Hasta El Sol De Hoy (Aaron Emanuel), Instinto Animal (Aviónica) e Llévame Despacio (Paulina Goto)

Mário e Dori junto como melhores produtores. O disco não é essas coca-colas todas, mas espero que eles vençam.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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