titasO Brasil também tem seu classic rock e ele merece respeito. E um dos principais representantes desse gênero que agoniza, mas não morre, chega este fim de semana a Fortaleza para um show gratuito, este domingo, 4, no Parque do Cocó. Eu me refiro aos Titãs, banda paulistana que nasceu nos anos 1980 como um noneto e, ao longo de três décadas, foi perdendo integrantes até se tornar um quarteto – Sérgio Britto (vocais e teclado), Branco Mello (vocais e baixo), Paulo Miklos (vocais e guitarra base) e Toni Bellotto (guitarras pra ninguém botar defeito).

Se essa debandada seria um peso grande para outros grupos, para os Titãs foi razão para levantar a poeira e dar a volta por cima. E assim nasceu Nheengatu, álbum vigoroso de pegada forte que cuspiu uma série de questões sociais na cara do público. Depois de um período de baixa popularidade, representada no pálido Sacos Plásticos, o 14° trabalho dos Titãs deu sustância para uma carreira que tem muito o que ser celebrada. E é isso o que deve ser feito amanhã, no evento Bicicletar, cuja programação começa às 16h30 e inclui DJs e show da banda The Dillas. Por email, Sérgio Britto conversou com o DISCOGRAFIA sobre o show que trazem a Fortaleza.

DISCOGRAFIA – O repertório de Nheengatu revela uma porção menos pop e mais agressiva dos Titãs, algo que os fãs mais novos talvez não conheçam. Como tem sido levar esse repertório para a estrada?
Sergio Britto – Nos nossos shows sempre mesclamos esses dois lados. Nessa turnê a ênfase maior é no nosso lado mais pesado, mas os fãs tem reagido muito bem. Diria até que estavam com saudade de nos ver assim.

DISCOGRAFIA – Como foi feita a seleção de repertório do trabalho ao vivo? Das músicas mais antigas, precisaram reaprender a tocar alguma?
Sergio Britto – Algumas músicas, como Massacre e Jesus não tem dentes no país dos banguelas, não tocávamos há muito tempo. Então, sim, tivemos que reaprender a tocar algumas delas. Escolhemos canções que formassem um bom conjunto, do ponto de vista musical e temático, com as canções do Nheengatu.

DISCOGRAFIA – Nheengatu é um disco sem baladas e de forte teor político, o que dificulta a entrada em espaços como trilhas de novelas e muitas rádios. Essa (ótima) pegada foi consciente? Que importância esse trabalho teve para vocês?
Sergio Britto – Sim, claro que foi consciente, mas foi fruto de um processo, um trabalho que começou há alguns anos. Experimentamos muita coisa até focar no conceito do disco. Aos poucos as músicas foram aparecendo. É um disco com unidade, frescor e vigor artístico. Sem dúvida o melhor trabalho que lançamos em muitos anos.

DISCOGRAFIA – Nheengatu vem na sequência de Sacos Plásticos, que foi um disco de menor popularidade. O que faltou naquele que foi bem dosado nesse?
Sergio Britto – Aquele disco recebeu críticas negativas, mas tinha alguns bons momentos também. Pra mim a diferença básica (fora o momento – os dois foram gravados em circunstâncias bem diferentes) é o tempo que dedicamos a cada um deles. Com certeza trabalhamos muito mais para chegar ao Nheengatu.

DISCOGRAFIA – O álbum fala de assuntos urgentes, como pedofilia e violência policial, e pintam um Brasil em ebulição, cercado de problemas sociais. Nheengatu é um disco triste, para baixo?
Sergio Britto – É um retrato do país em que vivemos, ácido, sem retoques ou maquiagem, com certeza, mas o que ele promove, como tema de fundo, é o entendimento, o diálogo. Isso vem logo sugerido no jogo entre a capa e o título do disco.

DISCOGRAFIA – Como surgiu a ideia das máscaras que vocês usam no show?
Sergio Britto – Quando fizemos o clip de Fardado usamos uma maquiagem pesada de “palhaços assustadores”. Gostamos muito do resultado e resolvemos adaptar para o palco. Funciona muito bem, por alguns minutos parece que somos uma outra banda.

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DISCOGRAFIA – E como nasceu essa parceria com o Aderbal Freire Filho, Chegada ao Brasil?
Sergio Britto – O Branco Mello trabalhou com ele e essa canção é resultado dessa parceria.

DISCOGRAFIA – Uma dos elementos citados na biografia de vocês é a democracia titânica, onde vocês costumam decidir tudo da banda na base da votação. Agora como um quarteto, o que mudou nessa instituição?
Sergio Britto – Pouca coisa mudou. Continuamos discutindo e argumentando muito. Procuramos sempre chegar ao consenso.

DISCOGRAFIA – Nenhuma característica me chama tanta atenção no Titãs quanto a capacidade de se reinventar. Depois de tantas perdas, queda de vendas no mercado fonográfico, discos de menos popularidade, vocês lançam um trabalho forte, coeso e que atrai elogios de público e crítica. Depois de mais de 30 anos trabalhando junto, de onde vocês tiram tesão para fazer um trabalho inédito?
Sergio Britto – Esse é o nosso grande barato, sempre foi. Criar, experimentar… Isso nos alimenta e nos une. Nunca tivemos medo de arriscar e, como todo artista com carreira longa tivemos altos e baixos, claro. Tudo o que fizemos, coisas boas ou ruins, foi sempre por escolha nossa. Nada nos foi ou é imposto. Talvez faça a diferença.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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