Até o início dos anos 1980, convencer algum artista internacional a tocar no Brasil era um desafio gigantesco. Uma série de infortúnios do passado, como instrumentos roubados e calotes milionários, fizeram a imagem do País ir ao chão no mundo do show business. Tinha até gente com medo de ser atacado por índios ainda no aeroporto. Foi nadando contra essa maré, que o empresário Roberto Medina começou a planejar um mega festival de música a ser realizado no Rio de Janeiro.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=IUbKarSEP7c[/youtube]A marca Rock In Rio nasceu antes mesmo de ele ter certeza se aquela aventura daria certo. Na época com 35 anos, o dono da Artplan pensou em reunir as maiores estrelas de rock do mundo e fazê-las dividir o palco com veteranos e estreantes brasileiros do gênero. Diante da fama que o Brasil tinha, nem a expertise que Medina tinha como o homem que trouxe Frank Sinatra para um show antológico no Maracanã facilitou seu caminho diante dos roqueiros. Tanto que o empresário carioca ouviu dezenas de nãos antes do primeiro sim. E foi esse bendito sim, dado pelo Queen, que abriu as portas para o festival que entraria para o livro do recordes como o festival com maior público da história (até então): 1,38 milhão.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Xyf_nuWihMM[/youtube]Esse foi o público da primeira edição do Rock In Rio, realizado entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985. Bem no meio desse período, mais precisamente no dia 15, Tancredo Neves foi escolhido por um colégio eleitoral como o primeiro presidente civil da Nação depois de mais de 20 anos de Ditadura Militar. No mesmo dia que o mineiro de São João Del-Rei foi indicado para o posto mais alto do Brasil, o carioca Cazuza, então vocalista do Barão Vermelho, cantava Pro dia nascer feliz dedicada àquele momento. “Que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã, um Brasil novo, com uma rapaziada esperta”, aspirava com seu carioquês típico.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=8yDwn75ERD4[/youtube]Além do Barão, o Rock In Rio foi a primeira chance de uma série de jovens astros brasileiros tocarem com som e luz daquela qualidade. Isso obrigou bandas como Kid Abelha (ainda ostentando o & Os Abóboras Selvagens) e Paralamas do Sucesso a se profissionalizarem se quisessem acompanhar aquele trem de novidades que estava passando na porta deles. Mesmo veteranos, como Rita Lee e Erasmo Carlos viram que precisavam incrementar seus shows para se alinhar aos novos tempos. Só para se ter ideia do volume de inovações, a primeira vez que pensaram em iluminar a plateia durante um show foi no Rock In Rio.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=sB3sCbcjODE[/youtube]Passados 30 anos, o festival cresceu em tamanho, agregou outros estilos musicais e ganhou o mundo. Já foram seis edições nacionais, mais seis realizadas em Lisboa, três em Madrid e uma em Las Vegas. Mas nenhuma foi tão carregada de simbologias quanto aquela de 1985, quando tantos viram suas vidas mudando durante o que poderia ser só um festival de música. Era o novo começo de era, de gente fina elegante e sincera que Lulu Santos havia anunciado.
Ola boa tarde Marcos Sampaio, adoro ler seus textos, sempre bem informativos.
Desta edição do rockínrio (1985), eu, na mais tenra idade, me recordo de uma cantora Nina Hagen, acho que alemã. Apesar de na época eu criança, esta cantora me chamou atenção, vi sua reportagem (Nina Hagen no Rock in Rio) no Jornal Nacional.
Mas, mudando de cantoras, Marcos vc tem alguma previsão do Show de 50 anos de carreira da magna Maria Bethânia em Fortaleza?
Grato:
Gael Nietzsche
Parece que foi ontem – aliás,o único Rock in Rio que eu me lembro com clareza.