Em Delírio, disco que ela lança este mês em CD, vinil e digital, Roberta Sá volta ao samba que tanto lhe fez bem. Mas, quem espera o visual alegre e colorido da artista pode se surpreender com a imagem cinza que estampa a capa do sexto disco da intérprete. Seguindo no mesmo tom, Delírio é um trabalho mais melancólico, tristonho, com emoções contidas. “Um disco menos festivo foi uma necessidade de desacelerar.
Queria ficar menos ansiosa e comecei a me voltar mais pro meu canto”, explica a artista que também atribui o cinza do novo trabalho à influência que tem recebido de Portugal, país onde que ela tem visitado com frequência.
Segundo Roberta Sá, as idéias para Delírio se baseavam em três pontos. Primeiro, que fosse um disco que valorizasse o canto, que fosse menos dançado e mais sentido. Segundo, que falasse do universo feminino, algo que, segundo ela, anda em falta. Terceiro, que fosse o menos editado possível. “Já que teria menos instrumentos, podia gravar mais junto. Depois, editar pouco, para que pudesse ter uma sensação de que foi ao vivo”. Já a melancolia, ela atribui à experiência que veio com a idade (ela faz 35 anos em dezembro). Dando voz a uma das mais tristes despedidas da MPB, o samba Última Forma, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, ela explica: “você tem que ter vivido pra poder cantar uma canção dessas”. Mas nada a impede de voltar em breve às cores mais quentes e festivas da música brasileira. “Não diria que é uma mudança definitiva. Nada é definitivo. É só uma maneira de caminhar. Depois desse disco, talvez vá para outro caminho”.
Serviço:
Roberta Sá – Delírio
Participações de Chico Buarque, Martinho da Vila, Antonio Zambujo e outros
11 faixas
Som Livre/MP,B Discos
Preço médio: R$ 21,90
Discografia da melancolia:
Braseiro (2005)
Com forte pegada percussiva, Braseiro também teve seus momentos melancólicos. Além de da regravação de Casa Pré-Fabricada (Los Hermanos), Valsa da Solidão, de Paulinho da Viola, é de arrancar lágrimas.
Que belo estranho dia pra se ter alegria (2007)
Querendo modernidade, o segundo disco de Roberta Sá mistura percussão eletrônica com sopro e cavaquinho. Aqui a tristeza se transforma em esperança em Cansei de Esperar Você, de Ivone Lara e Délcio Carvalho.
Pra se ter alegria (2009)
Neste primeiro disco ao vivo, não houve muito espaço para a tristeza. Ainda assim, o dueto de voz e bandolim com Hamilton de Holanda em Novo amor garante a emoção e mantém a respiração em suspenso.
Quando o canto é reza (2010)
Elogiada parceria com as cordas do Trio Madeira Brasil, o disco remete às tradicionais rodas de choro. Só com canções de Roque Ferreira, o tributo inclui momentos tocantes como Orixá de Frente e Marejada.
Segunda Pele (2012)
A ideia era mostrar nem só de samba se um disco de Roberta Sá. Festivo da capa ao repertório, Segunda Pele tem frevos e outros sons. Ainda assim, o coração aperta nas primeiras notas de Você Não Poderia Surgir Agora.