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Por Kelly Hekally (kellyhekally@opovo.com.br)

Thiago Pethit está de volta a Fortaleza. O paulista de produções conhecidas pela sensibilidade e ousadia apresenta o show Rock’n’Roll Sugar Darling, no Órbita Bar, às 21 horas desta sexta-feira. Os ingressos ainda estão disponíveis na bilheteria do local e no site Sympla.

Iniciada em Paris, no Jardin d’Acclimatation, a turnê lança mão do ritmo metalizado em formato clássico e, a ele, soma o estilo “a la Pethit” – no qual os aspectos marginal e debochado são os principais elementos. A festa de hoje contará também com Cid e o Asteróide, Daniel Peixoto e os DJs Darwin Marinho e Bia Turri.

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No cenário musical há sete anos, Pethit, que possui em sua lista versões de Wicked Game e I Follow Rivers ao lado do pernambucano Johnny Hooker, tem como marca o passeio por universos sonoros diferentes e, ao mesmo tempo, convergentes. “Faço uma ligação entre experiências pessoais e humanas, minha vida e carreira. Por exemplo: uma coisa que tem sido importante é o que, enquanto nação, estamos vivendo. Eu sinto que meus discos são muito pessoais, mas que, de certa forma, como a gente não é nada sem o contexto em que a gente vive, meus discos correspondem ao momento do mundo”, comentou o cantor paulista ao O POVO.

SERVIÇO:
Show Thiago Pethit
Onde: Órbita Bar – Rua Dragão do Mar, 207 – Praia de Iracema
Quando: hoje, 6 de Maio
Onde: Órbita Bar
Mais informações: 3453 1421
Ingressos antecipados no Órbita Bar e no Sympla

Confira a entrevista na íntegra:

O POVO – Defina o Thiago Pethit.
Thiago Pethit – O Thiago Pethit é uma pessoa e um artista com profunda necessidade de troca e comunicação.

OP – Você, de 2008 para cá, soma quatro álbuns, os quais parecem ter pegadas distintas. Como se dá esse processo de criação?
Thiago – Ele é bem maluco, caótico. Estou o tempo inteiro em processo criativo (risos). Eu não tenho um método: quando decido fazer um trabalho, os processos não se repetem. Acontece muito de eu fazer o “downlod completo” do atual trabalho no momento em que já estou finalizando turnê com ele.

OP – E as experiências pessoais? Como elas interferem neste processo?
Thiago – Bem… Eu faço uma ligação muito forte entre experiências pessoais e humanas, minha vida e carreira. Por exemplo: uma coisa que tem sido importante é o que, enquanto nação, estamos vivendo. Eu sinto que meus discos são muito pessoais, mas que, de certa forma, como a gente não é nada sem o contexto em que a gente vive, meus discos correspondem ao momento do mundo.

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OP – Fala como foi apresentar os primeiros discos ao público, tendo em vista seu som plural e com propostas diferentes do que, à época, estava posto no mercado musical.
Thiago – Em Outro Lugar foi uma produção de menor escala, vislumbrando um horizonte ainda contido. Texas (Berlim, Texas) foi primeiro trabalho profissional no sentido de estar dentro do mercado profissional mesmo. Ele é muito ingênuo em relação ao mundo. As composições eram muito livres. Elas refletiam um momento pré-governo Dilma, a era Lula, para mim, um momento de avanço econômico, cultural. Começava a existir a possibilidade de ser um artista alternativo.  Até 2010, era muito raro um artista alternativo. Só existia Marisa Monte. Não havia espaço para Tulipa (Ruiz), Criolo, Teatro Mágico (das Palavras). Rompemos esses limites com a chegada da oportunidade de fazermos som cada um a nossa maneira. Em Estrela decadente (terceiro trabalho/2012) – que foi reflexo de bancada política, que brinca com androgenia, sexualidade dupla, travestismo e que é uma provocação ao machismo, ao homofóbico, a “Marcos Felicianos, Bolsonaros e Cunhas” – meu processo pessoal e como pessoa pública já era outro. Estava começando a assimilar as respostas musicais e com isso passei por um forte processo de depressão. Eu era um sucesso de público, mas decadência de mercado. Os empresários ouviam minhas músicas e diziam que faltava algo. Desde então, cuido praticamente só de tudo. Das passagens, hospedagem. Isso me ajudou a reerguer e desconstruiu em mim a ideia de artista que eu tinha. Estou muito bem com isso!

OP – E Rock’n’Roll Sugar Darling?
ThiagoRock’n’Roll Sugar Darling é fruto das manifestações de junho de 2013. Ele traz como alicerce assuntos que a gente vive desde lá (e parece que de lá ainda não saímos). É inspirado no movimento Blackblok, deseja quebrar tudo do ponto de vista de contexto. É um disco já mais agressivo, oposto exato de Estrela Decadente, que comemorava meu fracasso. Eu o considero muito bom. Continuo sem empresário, sem gravadora e, ainda assim, cheguei ao terceiro disco. Posso me bancar e trabalhar com produtores brasileiros incríveis

OP – Você já foi pro Texas, pra Buenos Aires e já viveu São Paulo intensamente com seus trabalhos. Como enxerga que essas experiências se cruzam ou se somam na sua carreira?
Thiago – Tenho o teatro na minha “bagagem”. Gosto de ser um artista de palco, não de estúdio. Nele, sinto que canto bem. Nele, estou pertinho de tudo, do público. Gosto de ficar em casa, me sinto protegido, mas sinto isso também no palco. É como se cada pedaço do meu corpo fosse do público. Como se eu fosse um banquete.

OP – Suas performances são incríveis. Têm beleza, sensualidade. Elas são fruto do teatro?
Thiago – Acho que elas são minhas mesmo (risos). O Teatro me ensinou a dar vazão a isso. A necessidade de troca se dá muito no palco – eu me sinto tão desapegado de mim.

OP – Alguns clips seus são em estilo desenho animado e trazem uma pegada bem contemporânea. Por que a escolha?
Thiago – Sou fruto de uma geração internet – acho que vem naturalmente disso. Quando comecei a criar música, foi pelo fato de que elas se espalham também no ambiente virtual, que no fim das contas são ferramentas da contemporaneidade.

OP – Como define o rock que canta?
Thiago – Rock como ele deve ser ou, pelo menos, foi um dia.

OP – O que o público pode esperar para esta sexta?
Thiago – Muito calor humano e da natureza. Já toquei uma vez em Fortaleza e foi um show delicioso. Sei que vai ser novamente. Tenho uma relação carinhosa com essa cidade. Com a música dela. Gosto muito de Cidadão Instigado, Daniel Peixoto, Verônica Valentino. A cena musical muito rica. mexe comigo. E sou muito amigo de Yury Kalil.

OP – E o que vem de Thiago Petit por aí, em um futuro não tão distante?
Thiago – Ninguém sabe. Nem eu sei (risos). Tem uma coisa em mim, começando a tomar forma. Esse disco atual é fruto de 2013 e eu sinto que o Brasil não mudou. Sinto que agora a gente está começando a ver uma coisa nova – que me parece pior. Vejo um impeachment e que o Rock’n’Roll Sugar Darling está se consolidando nisso.

OP – Alguma mensagem para Fortaleza?
Thiago – Fortaleza, pode vir que eu estou fervendo (risos)!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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