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Por Marcos Sampaio (marcossampaio@opovo.com.br)

Caixa anos 70 resgata período menos popular de Elza Soares em quatro discos lançados pela extinta gravadora Tapecar

Um ano depois de surpreender o público com A Mulher do Fim do Mundo, primeiro disco somente de inéditas em quase 60 anos de carreira, Elza Soares vê resgatado um período bem particular de sua carreira. O box Anos 1970, lançado pelo selo Discobertas, traz quatro discos de numa época em que a carreira da sambista andava em baixa, assim como sua vida pessoal.

Os álbuns foram lançados originalmente entre 1974 e 1977 pela Tapecar, do espanhol Manolo Camero. A ideia da gravadora era trazer para o Brasil os títulos da Motown, empresa norte-americana que fez história registrando nomes da black music, como Michael Jackson, Stevie Wonder e Diana Ross.

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Numa época em que o samba estava em alta e que sobravam cantoras nos cast das grandes multinacionais, Manolo resolveu abraçar a música negra nacional trazendo para seu lado nomes como Candeia, Xangô da Mangueira e Gilson. Depois de um casamento feliz com a Odeon, onde gravou pérolas como A Bossa Negra (1960) e Elza Pede Passagem (1972), a carioca de voz atrevida sentiu vontade de mudar e aceitou o convite de Manolo.

Ao mesmo passo que gravava um sucesso atrás do outro na Odeon, Elza vivia uma barra pesadíssima dentro de casa. O alcoolismo do marido Garrincha só se agravava e muitos ainda não aceitavam o fato do jogador ter deixado o casamento anterior para ficar com uma artista. Em tempos de pensamento ainda mais obtuso, o casal teve a casa metralhada sem grandes explicações. O jeito foi passar um tempo fora, fazendo shows pela Europa e onde mais chamassem.

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Em meio a esse turbilhão, a primeira gravação de Elza na nova casa foi Salve a Mocidade, registrado na trilha da novela O Rebu. O sucesso estrondoso do samba-enredo de Luiz Reis não se repetiu no álbum lançado naquele mesmo ano. Apostando em novos compositores, o disco Elza Soares (1974) tem como exceção uma interpretação cortante de Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues). Até a própria Elza se arrisca como compositora no partido alto Louvei Maria.

Os arranjos e a produção musical dos três primeiros discos de Elza na Tapecar ficaram a cargo do mestre dos bailes Ed Lincoln (1932 – 2012). O pianista fortalezense era dono de um ritmo contagiante que se alinhou bem ao estilo sambajazzístico da intérprete. Alguns destaques desse encontro são as faixas Xamego de Criola (Zé Di), Auera (Marcos Moran/ E. Carlos) e Primeiro Eu (Toninho/ Romildo). Chegando a Lição de Vida (1976), Elza começa a se aproximar de uma turma de compositores que iria dar muito pano pra manga mais a frente. O disco abre com Malandro, do então estreante Jorge Aragão, e segue com Deus e Viola, da dupla Dida e Neoci, também autores de Vou Festejar.

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Com a carreira ficando cada vez mais errática, Elza Soares se afasta ainda mais do sambajazz e abraça o partido alto em Pilão + Raça = Elza., disco em que se despede da Tapecar. Sem ter deixado nenhum sucesso, o álbum traz três composições de Elza, duas delas em parceria com o produtor Gerson Alves, e mais uma de Jorge Aragão (Perdão amor).

Daí em diante, novos dramas tomariam conta de vida de Elza Soares. A separação de Garrincha e a morte do ídolo pouco tempo depois. Três anos depois, uma nova perda: Garrinchinha, único filho do casal, morre num acidente de carro. Para fugir da dor, Elza passou um tempo longe do Brasil, dos estúdios, mas seguiu cantando para não enlouquecer. E, assim, ela segue, entre perdas e ganhos, buscando curar feridas com música.

Discografia

ELZA SOARES (1974)

Numa época em que Clara Nunes vendia milhares de cópias, Elza estreia na Tapecar usando longo e turbante. As comparações foram muitas. Nesta reedição, estão os bônus Salve a Mocidade, Festa do Círio de Nazaré e O Mundo Fantástico do Uirapuru.

NOS BRAÇOS DO SAMBA (1975)

Neste segundo disco, Elza volta a selecionar novos compositores. A exceção é Saudade Minha Inimiga, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Aqui os bônus são Diz que fui por aí, Canta, canta, minha gente e Dia de graça.

LIÇÃO DE VIDA (1976)
Aqui o grande destaque é a Malandro, faixa de abertura composta por Jorge Aragão. É uma nova turma de compositores chegando. Como bônus, Vem chegando a madrugada e Quando vim de Minas, tiradas da coleção 100 anos de Música Popular Brasileira.

PILÃO + RAÇA = ELZA (1977)
Elza se arrisca como compositora e lança três sambas da própria lavra. O samba-canção Enredo de Pirraça é o destaque. No disco que fecha o box, os bônus são Mangueira, Minha alegria e Vale ouro.

 

About the Author

Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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