antonio-adolfo-carol-saboya-foto-rodrigo-lopesAntonio Adolfo é uma autoridade entre os músicos brasileiros. Pianista de toque discreto, refinado e preciso, ele está na ativa desde os bons tempos da bossa nova, quando os grupos instrumentais faziam festa no Beco das Garrafas. Tempos depois, fez história entre os festivais como compositor de BR-3, vencedora do Festival Internacional da Canção Popular na voz de Tony Tornado. O autor de Sá Marina e Teletema também foi pioneiro na produção independente quando lançou o álbum Feito em Casa, em 1977.

Morando há 10 anos nos Estados Unidos, o carioca de 69 anos segue incansável produzindo, compondo e tocando pelo mundo. Tanto que, em 2016, dois trabalhos saem de sua lavra. O primeiro deles é Tropical Infinito, apanhado de nove faixas instrumentais, entre composições próprias e regravações de Benny Golson (Killer Joe e Whisper Not), Horace Silver (Song For My Father), Jerome Kern (All The Things You Are) e outros. Para Antonio Adolfo, o disco faz um movimento para frente e para trás no tempo. “Voltar no tempo porque foi nos anos 1960 que tive contato com esses ‘feras do jazz’ e desenvolvia-se uma cultura ‘jazz/bossa’, Beco das Garrafas e som das gafieiras, no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, temos que considerar que estamos em 2016 e essas misturas nunca eram imaginadas naquela época, já que os estilos dos músicos e compositores eram sempre muito respeitados”, explica.

Entre balanços dançantes – como Cascavel, lançada originalmente no disco Viralata (1979) – e temas introspectivos, como Yolanda Yolanda (feito em homenagem à mãe do autor), Tropical Infinito tem um quê de nostalgia, das pistas de dança. “As gafieiras nos anos 1960 usavam mais ou menos esse tipo de formação instrumental e era onde muitos músicos evoluíam, experimentavam novas idéias musicais”, comenta o compositor que voltou a gravar com metais depois de muitas décadas.

Pai e filha
Paralelo a Tropical Infinito, chega ao mercado Carolina, álbum tipo exportação de Carol Saboya. Filha de Antonio Adolfo, a intérprete de voz aguda seleciona o fino da música brasileira mais popular, como Avião (Djavan), Tom Jobim (Passarim e outras), Pixinguinha (1 x 0, com Benedito Lacerda) e outros. Tem ainda a presença de Beatles (Hello Goodbye) e Sting (Fragile), fazendo uma ponte com o exterior, onde ela tem boa aceitação.

O ritmo que pulsa em Carolina é o da bossa nova bem tradicional, bem com cheiro do sal de Copacabana. “Foi um trabalho bastante elaborado, que durou uns três anos. Começamos logo que ela lançou o álbum Belezas, com músicas do Ivan Lins e Milton Nascimento”, lembra o pai orgulhoso da cria. Antonio Adolfo atua como pianista e arranjador deste 12º álbum de Carol. “Talvez seja um pouco diferente do que faço quando produzo, arranjo e toco para outros cantores, pois, por ser minha filha, rola uma intimidade maior. Mas, Carol sabe separar bem as coisas, dentro de um limite bem legal, e acata o que sugiro na maioria das vezes. Assim como eu ouço suas sugestões”, avalia o músico.

Com 12 discos lançados entre Brasil e exterior, Carol Saboya ainda é pouco íntima dos ouvidos nacionais. Carioca de 41 anos, ele estreou ainda criança num compacto gravado ao lado de Luiz Carlos Mieli. Estudou música nos EUA e participou do premiado Brasileiro, de Sérgio Mendes. Bem próxima dos repertórios dos cânones da MPB, a cantora de timbre rouco e afinação precisa buscou para o novo disco canções de várias épocas, mas que tivessem como liga alguma relação com sua vida. Daí ter dado ao disco seu nome de batismo.

Serviço:
Carolina – Carol Saboya
10 faixas
Rob Digital
Preço médio: R$ 29,90

Tropical infinito – Antonio Adolfo
9 faixas
Rob Digital
Preço médio: R$ 29,90

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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