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Foto: Lívio Campos

DISCOGRAFIA – A primeira edição do Grande Encontro foi um marco da música brasileira, que vendeu bem e gerou vários projetos semelhantes pelo Brasil. Olhando agora em perspectiva, a que você atribui esse sucesso todo?

Alceu O Grande Encontro é a reunião de artistas de uma mesma geração que possuem em comum uma grande devoção às suas identidades brasileira e nordestina. Não somos tradicionalistas, mas respeitamos profundamente a tradição. Somos descendentes dos violeiros, dos aboiadores, dos cantadores de feira – elementos que mestres como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro utilizaram em larga escala para consolidar suas expressões e nacionalizá-las, estendendo-as ao grande público. Soubemos imprimir um aspecto muito forte de contemporaneidade em nossos trabalhos.

DISCOGRAFIA – No mesmo ano de 1996, quando você lançaram o primeiro Grande Encontro, Elba, Zé e Geraldo lançaram disco solo, e você lançou no ano seguinte. Como foi pra vocês conciliar carreira solo com o imenso sucesso do projeto coletivo?

Alceu  Naquela época eu havia lançado, uns dois anos antes, o disco Maracatus, Batuques e Ladeiras, que reflete um período em que morei em Olinda. Quando surgiu a ideia do Grande Encontro, me dediquei plenamente ao show e foi aquele sucesso todo que você menciona. Pouco depois fiz um disco para a Som Livre (Sol e Chuva, 1997) e por obrigação contratual tive de me desligar do Grande Encontro. Mas este show permaneceu em mim e no meu público durante todos estes anos e é uma satisfação poder realizá-lo novamente.

DISCOGRAFIA – Uma das gratas surpresas do Grande Encontro original é ter os quatro participantes tocando violão. Elba inclusive, mais reconhecida pela (ótima) voz e pouco vista de violão em punho. Esse momento de sonoridade acústica e mais informal permanece no novo show?

Alceu  O show original era basicamente acústico e neste temos uma grande banda, o que confere um caráter mais elétrico e visceral ao show. Há também músicas que não estavam no primeiro show, como Ciranda da Traição, uma música inédita minha, e Me Dá Um Beijo, composição que fiz em 1972 para meu LP de estreia, em dupla com Geraldo Azevedo. Ainda temos Elba cantando Sangrando, de Gonzaguinha. Cada qual deu a sua contribuição e escolheu as músicas que tinha vontade de cantar. Depois escolhemos aquelas que queríamos cantar juntos, em trio ou dueto. Canto Moça Bonita, de Geraldo, ao lado dele, porque gravei-a recentemente para a trilha da novela Velho Chico. Geraldo sugeriu Me Dá um Beijo e Papagaio do Futuro, que defendemos ao lado de Jackson do Pandeiro no Festival Internacional da Canção de 1972. Incluímos também Caravana e Táxi Lunar, parcerias minha com Zé e Geraldo, que cantamos em trio, assim como Banho de Cheiro (do nosso parceiro Carlos Fernando), Frevo Mulher (de Zé), Sabiá, de Luiz Gonzaga, que explicita a influência ibérica na canção nordestina.

DISCOGRAFIA – Existem elementos comuns e outros bem particulares nas carreiras solo de vocês. Em termos de música, tem as influencias nordestinas, mas também a psicodelia, o rock e o pop. O que existe de mais forte em comum entre vocês?

Alceu  Certa vez, quando me apresentei num festival no Carneggie Hall (Kool Jazz Festival), um jornalista americano definiu meu som como “um rock que não é rock”. Já Luiz Gonzaga costumava dizer que a minha música era “uma banda de pífanos elétrica”. Concordo com as duas definições. Acredito que estas influências de pop e rock sejam muito mais uma questão de timbre e de identidade do que qualquer outra coisa. Nunca escutei Beatles, nem Bob Dylan, Michael Jackson, nem aquela banda do disco da vaca (Pink Floyd). Minhas referências vem todas da cultura do agreste e do sertão, posteriormente da zona da mata. Sou do baião, do xote, do frevo, do martelo agalopado, da ciranda, do maracatu. Agora mesmo estou lançando um DVD chamado Vivo! Revivo!, onde recrio meu repertório dos anos 70, que as pessoas costumam associar ao rock, o que não concordo muito. Como disse, é uma questão de timbre e intensidade. Não acredito nesta história de que para ser universal é preciso produzir uma música com influência americana ou inglesa. Por isso digo que, enquanto existirem fronteiras, sou brasileiro, nordestino, pernambucano, sou de São Bento do Una. Estas são as minhas referências e nunca abri mão delas para agradar ninguém. Por isso sou como um espelho do meu povo: eu me reconheço nele, ele se reconhece em mim.

>> Logo mais, neste mesmo blog, entrevistas com Elba e Geraldo

Serviço:
O Grande Encontro
Quando: hoje, 3, às 21 horas
Onde: Centro de Eventos (av. Washington Soares. 999 – Água Fria)
Quanto: R$ 120 (arena – inteira) e R$ 60 (arena – meia). demais setores esgotados
Telefone: 3033 1010

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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