img_2685Era 1982 quando uma turma irreverente de músicos surgiu no cenário nacional carregando uma linguagem descolada e cheia de carioquice. Melhor retrato daquele momento do rock, a Blitz fez história suingando sobre uma mistura de pop, samba, blues, histórias em quadrinhos, circo, teatro e tudo mais que fosse um contraponto à Ditadura Militar que ainda sombreava o Brasil. Tanto que ainda deu tempo do LP de estreia, As Aventuras da Blitz, ter uma faixa censurada por citar um simples “puta que pariu”.

Depois de 34 anos, a banda está renovada e segue um novo modelo de trabalho, sem a pressão e as facilidades de gravadora. Nesse compasso, a banda liderada pelo resistente Evandro Mesquita recuperou ideias do passado para gravar o recém lançado Aventuras II. A capa desenhada por Gringo Cardia e as ilustrações do encarte são alguns dos elementos resgatados no álbum que traz 13 faixas inéditas. Entre reggaes, rocks, raps e outras levadas, o repertório vem vitaminado por uma lista enorme de convidados.

“Isso é uma coisa bem personalidade Blitz. Eu e o Billy (Forghieri, tecladista) e o técnico passamos horas e horas gravando uma coisa e outra, e ficávamos pensando em quem trazer. O Pretinho da Serrinha pra botar um cavaquinho, mas vamos chamar também o Andreas Kisser pra jogar numa outra praia”, comenta Evandro por telefone, direto de alguma praia. Com sotaque carioquíssimo, o vocalista da Blitz se refere à faixa Martelinho de Ouro, que além do sambista e do guitarrista do Sepultura, recebeu a voz de Seu Jorge.

A escalação que reforça Aventuras II é bem variada e foi surgindo meio que por acaso. Os Paralamas do Sucesso foram convidados numa ponte aérea para comparecer em Nu na Ilha, que ainda traz George Israel e Davi Moraes. Zeca Pagodinho bota malandragem no reggae Fominha. “Ele gosta muito do filme dos Normais. Fiquei apreensivo porque é outra praia, mas é o Rio de Janeiro”, explica Evandro, que também faz dueto com Frejat no soul Baile Quente.

Aventuras II tomou cerca de dois anos de produção no estúdio particular que a banda montou, o Toca da Onça. Foi ali, que eles ainda receberam Sandra de Sá, Arnaldo Brandão, Flavio Guimarães e Alice Caymmi. “Ela (Alice) é de uma família que eu sou muito fã. Quando a Alice veio, eu mostrei umas fotos do avô dela que foi a um show nosso no Canecão”, conta Evandro Mesquita sobre sua admiração por Dorival Caymmi.

Além dos convidados dessa festa, a Blitz celebra uma formação que já se mantém há mais de 10 anos – além do vocalista, violonista e principal compositor, o time é formado por Billy Forghieri (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Cláudia Niemeyer (baixo), Andréa Coutinho (vocal) e Nicole Cyrne (vocal) – e uma continuidade em produzir material novo. “É legal ter os nossos clássicos. Costumo dizer que música boa não tem prazo de validade, mas a gente se mantém ativo”, comenta Evandro.

Pare ele, essa produção inédita fica mais saborosa quando se leva em conta que o rock anda em baixa nas rádios e TVs brasileiras. “É um momento parecido com quando a gente começou. Nada do que representava a galera tocava nas rádios. E a gente resolveu não se deixar levar pelos modismos e manter a alma da nossa trajetória”, comemora Evandro apontando quais os desafios da atualidade. “Hoje, gravar é muito fácil. Antes precisava daquele estúdio da NASA. A grande dificuldade agora é levar essa arte para o público. A gente ainda engatinha nessas redes sociais. Mas torcemos para atingir o máximo de pessoas”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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