Agosto de 1965. Quando os Beatles colocam os pés no gramado do Shea Stadium, um clima de desespero toma conta da imensa multidão que ocupa o local. Gritos, desmaios, choro, sorrisos, suor e mais grito. Um policial responsável pela segurança do quarteto não se contém e tapa os ouvidos enquanto uma garotinha que aparenta nem ter entrado na adolescência já se mostra enfadada com tanta zoada. No palco, a atração principal também se incomoda com o barulho que os impede de ouvir uns aos outros.

Mas é esse desespero o mote de Eight Days a Week, novo documentário sobre o quarteto de Liverpool que passou por Fortaleza no início do mês. Com apenas uma sessão diária exibida de quinta, 2, até o domingo, 5, o filme de Ron Howard (Uma Mente Brilhante e A Luta Pela Esperança) resgata o período em que John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison excursionavam para tocar ao vivo.

Do esfumaçado Cavern Club aos estádios gigantescos do mundo, os shows dos Beatles se misturavam com os acontecimentos fundantes, como a luta pelos direitos civis e o assassinato de John Kennedy. Entre o completo descaso e o “ter que se preocupar” com os fatos, os músicos viajavam pra lá e pra cá levando caos e alegria para onde quer que aportassem. Whoopi Goldberg comenta da sua satisfação ao ser surpreendida pela mãe que espremeu as finanças e comprou ingressos para ver aqueles garotos cabeludos que vinham escalando as paradas de sucessos.

Se a carreira completa dos Beatles já foi curta, o período coberto pelo filme se resume a poucos anos. Isso por que logo os Beatles se cansaram de fazer apresentações gigantescas em condições precárias. O som era ruim, a segurança insuficiente e o nível de paixão dos beatlemaníacos já tinha atingido níveis patológicos – uma passagem da biografia escrita por Bob Spitz conta de uma fã que rompeu vasos sanguíneos de tanto berrar durante um show. A partir de 1966, eles abriram mão das apresentações ao vivo e passaram a se dedicar mais aos estúdios. É daí que viriam obras-primas como Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band e Revolver. Um último show aconteceu em 1969, quando eles tocaram juntos no topo do prédio da Apple Corps. Esse último show fornece as imagens perfeitas para encerrar o documentário eleito o melhor do Critics Choice Awards e indicado ao Grammy de melhor filme musical.

Além dos cinemas, Eight Days a Week está sendo vendido e DVD e Blu-ray. Saiu também em disco com 17 faixas gravadas ao vivo. Tudo foi remasterizado com esmero, mas não o suficiente para limar os berros do público (o disco acompanha um encarte de 24 páginas de fotos e informações). É bem verdade que não há muita novidade em mais um filme sobre os Beatles. No entanto, alguns áudios e imagens inéditas dos quatro ingleses, seja no exercício do ofício ou na intimidade, sempre atrai muitos olhares pelo mundo inteiro. Além disso, nunca é demais ouvir canções que cruzaram décadas mantendo a força, a beleza e a energia.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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