Houve um tempo em que a música sertaneja dava voz a um lado simples da vida nacional. A riqueza da natureza, os amores interioranos, as filosofias do homem do campo, além das lendas e personagens folclóricos eram os assuntos mais explorados. Atualmente, esse estilo se transformou numa potência econômica da indústria fonográfica e lota espetáculos gigantescos que falam sobre bebedeira, farra e dor de cotovelo.

O show que Tetê Espíndola e Alzira E trazem para a Caixa Cultural Fortaleza hoje promove uma viagem de volta às raízes sertanejas. Por conta das chuvas do último sábado, 11, que afetou parte do teatro, as irmãs sul-mato-grossenses vão realizar as três sessões previstas para o fim de semana no domingo, 19. Nesse encontro, elas refazem o disco Anahí, lançado em 1998, no qual afinaram vozes para refazer um repertório que as acompanha desde a infância.

Tetê e Alzira são filhas de uma família de muitos músicos e dividiram muitos projetos ao longo da carreira, inclusive as seminais bandas Luz Azul e Tetê e o Lírio Selvagem. “A gente tem uma cumplicidade de sangue, pois convivemos desde a infância com nossas fantasias e brincadeiras. A musicalidade familiar que aflorou na adolescência e vibra até hoje em parcerias é o que me move com muito prazer pra manter esse show vivo há quase 20 anos”, celebra Tetê Espíndola por email.

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No roteiro do show em Fortaleza, Tetê assume sua craviola (mistura de cravo e viola) para apresentar canções que marcaram sua trajetória de quase 40 anos de música, incluindo o recente álbum Asas do Etéreo (2014). E Alzira E, ao violão, resgata momentos de carreira de compositora até chegar a O Que Vim fazer Aqui (2014), álbum em que registrou parcerias inéditas com Itamar Assumpção e Alice Ruiz.

Na parte dedicada à parceria registrada em disco, elas relembram canções interioranas como Meu Primeiro Amor, Galopeira, Mágoas de Caboclo, Índia e Sertaneja. “O álbum Anahí se tornou um símbolo de união pra nós, dedicado a nossa mãe. Nos conforta e nos leva a uma viagem desde a infância até os dias de hoje”, destaca Alzira. “O repertório desse encontro valoriza o dueto de duas irmãs que gostam de cantar juntas desde sempre. Além de guarânias e polcas que marcaram a nossa infância, vamos cantar clássicos da nossa música de raiz, que estão na memória de cada brasileiro para que todos possam cantar com a gente e alimentar a alma”, acrescenta Tetê.

Para ambas, o tom sertanejo do disco em nada se reflete no que vem se chamando de sertanejo (universitário ou não) nos últimos anos. As cantoras concordam, também, que há um outro sertão ainda vivo que merece ser cantado. “A música brasileira tem seus ‘modismos’ e público para todas essas vertentes. Ainda bem, né? Tento acompanhar o que rola por aí dando uma ‘pausa’ na MPB que valoriza a boa poesia e sutilezas de instrumentação”, revela Tetê Espíndola. “Eu acho que são mais manobras do mercado, de cuja cena me mantenho afastada. Mas ainda existe o sertanejo verdadeiro, a música que reflete o mundo brejeiro, a viola caipira, as festas tradicionais e rurais”, encerra Alzira.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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