Abigail Izquierdo Ferreira já encarnou muitos personagens no palco. Dezenas, talvez centenas. Talvez seja incontável para quem tem mais de 70 anos de carreira. Mas quatro desses personagens mereceram uma revisão da carioca que tornou-se um sinônimo do ofício teatral. No espetáculo 4XBibi, Bibi Ferreira resume em cerca de uma hora os espetáculos que fez em homenagem à fadista portuguesa Amália Rodrigues, ao mestre do tango argentino Carlos Gardel, à trágica francesa Edith Piaf e àquele que ficou conhecido como “a voz”, Frank Sinatra. Por email, Bibi revela suas impressões sobre este espetáculo que chega hoje a Fortaleza, para apresentações hoje a amanhã. Confira.

DISCOGRAFIA – Nesse show, você canta em quatro línguas diferentes. Qual sua relação com esses idiomas? Algum de dá mais prazer em cantar?
Bibi Ferreira – O maior prazer é cantar, seja em que idioma for. O espanhol e o inglês são mais fáceis para mim. O espanhol foi o meu beabá. No inglês eu fui alfabetizada. Depois morei em Londres, quando estudei direção.

DISCOGRAFIA – Você chegou a conhecer Amália pessoalmente. Como foi seu contato com ela?
Bibi – Não nos conhecemos. Nem lá em Portugal nem aqui no Brasil onde ela também morou. Mas ela ia aos meus shows. Temos uma foto nos bastidores dos teatros do Parque Mayer, em Portugal, no final dos anos 1950, quando morei lá e trabalhava no teatro de revista. No final dos anos 1980, quando volto com (a peça) Piaf, no Cassino do Estoril, soube que ela assistiu muitas vezes. Fiquei surpresa quando ela declarou que se alguém fosse contar sua vida, gostaria que fosse eu. Fiquei muito envaidecida.

https://www.youtube.com/watch?v=xUp4ccEuGuo

DISCOGRAFIA – Recentemente, seu show sobre Sinatra foi ovacionado nos EUA e rendeu um encontro com a Liza Minelli. Como foi esse encontro? Sobre o que vocês conversaram?
Bibi –
O encontro com a Liza foi na primeira vez que me apresentei em NY em 2013, quando apresentei o show Bibi, histórias e canções, que é um show bem dinâmico também. É esse que estamos lançando o DVD agora, gravado ao vivo no Palácio das Artes, com a Sinfônica de Minas. Ela adorou. Já nos conhecíamos, mas ela nunca tinha me visto em cena. Ela quis vir ao palco depois do show e falou que nunca tinha visto em cena ninguém igual a mim. Fiquei muito feliz. Imagina só, é a Liza Minelli, uma das maiores estrelas do show business mundial falando. Depois cantamos New York, New York. Adorei, claro. Mas essa última ida a NY, que foi a terceira vez, em setembro do ano passado, foi com o 4XBibi, esse mesmo que apresento em Fortaleza, e a repercussão foi excelente. Não só pela matéria do New York Times, aquela maravilha. Mas, após cantar Old man river, recebi a maior ovação que já tive na minha vida.  Falando mais sobre a Liza, ela me falou que eu lembrava muito a mãe dela, a (atriz) Judy Garland, inclusive que durante o show lembrou de um dos últimos shows que havia visto da mãe. Que em cena tínhamos gestos parecidos. Rsssss.

DISCOGRAFIA – Aos 90 anos, você fez seu primeiro show nos EUA. Que lugares do mundo você ainda não cantou, mas pretende?
Bibi – Foi a primeira vez em NY, mas já me apresentei em Miami, em 1998. Cantei Piaf em Paris. Amália em Lisboa e Gardel em Buenos Aires. A proposta do meu empresário era essa, voltar na origem de cada um. Verdadeiros desafios. NY e Lisboa sempre me empolgam. Acho que voltamos nas duas cidades ainda esse ano. O 4X em Lisboa, e o show novo, que estreio em junho, para NY. Volto ao repertório brasileiro.

DISCOGRAFIA – Sendo um show cênico-musical, qual dos quatro homenageados te oferece mais elementos para uma interpretação teatral? Existe muita diferença nesse sentido entre os quatro?
Bibi – Por incrível que pareça não. Todos têm um ponto em comum. Além de cantores, todos também eram atores.

DISCOGRAFIA – Se você fosse fazer um show nos mesmos moldes de 4XBibi com compositores brasileiros, que compositores escolheria e por que?
Bibi – Caymmi, Caymmi, Caymmi e Caymmi. Adoro as músicas do Caymmi. Ele é sensacional. Só de falar dele já me dá vontade de cantar Coqueiro de Itapuã, ou mesmo O que que a baiana tem.

DISCOGRAFIA – Você esteve há poucos meses em Fortaleza com o show em homenagem a Sinatra. Como foi essa passagem pelo Ceará?
Bibi – Adoro Fortaleza, sempre. O vento, as praias, a comida… Ai, ai, ai a comida!!!!!!! Rsssss. Na noite que chegar vou comer camarão ensopado ao alho e óleo, ou então um baião de dois. Não vou deixar de comer o pirão também. Falando mais da Cidade, sei da minha foto no Theatro José de Alencar. Uma grande honra para mim. Lembro da apresentação da Piaf no Dragão do Mar, inesquecível. Lembro de tantas vezes que aí estive. O Teatro Riomar é muito bom. Para o artista e para o público. Também lembro dos amigos que tenho, do grande público que sempre me prestigia. Sou uma artista do palco, ali é o melhor lugar que sei ser a Bibi.

Serviço:
Show de Bibi Ferreira
Quando: 29 e 30 de março, às 21 horas
Onde: Teatro RioMar Fortaleza (Rua Lauro Nogueira, 1500 – Papicu)
Ingressos: R$ 220 (plateia alta), R$ 260 (Plateia Baixa B) e R$ 280 (Plateia Baixa A)
Telefone: 3244 2688

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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