Trinta dias se passaram desde a morte do rapaz latino-americano. O falecimento de Belchior despertou um turbilhão de sentimentos nos seus conterrâneos. Um luto pelo tão esperado retorno que não aconteceu. Desde que a notícia chegou, no dia 30 de abril, a cena cultural de Fortaleza tem se mobilizado para prestar homenagens à altura do artista. Shows, tributos, mostras de arte. Tudo para celebrar e enaltecer o cantor, compositor, artista plástico e filósofo cearense. Dentre estes grupos, está o coral do Instituto Federal do Ceará, que volta aos palcos com o espetáculo Alucinação: Coral do IFCE canta Belchior. A apresentação, que estreou em 2016, como parte das comemorações dos 70 anos do sobralense, ocorre na quarta-feira, 31, às 19h30min, no Theatro José de Alencar. A entrada será mediante doação de um quilo de alimento.
“É a primeira vez que fazemos o espetáculo todo após a morte de Belchior. Agora estamos tendo uma responsabilidade maior ainda”, afirma André Dias, coralista do IFCE, em entrevista ao DISCOGRAFIA.
Alucinação teve sua estreia em 2016 (leia aqui), em Sobral, e passou pelo Teatro Carlos Câmara e Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Fortaleza. O espetáculo cênico musical foi pensado como homenagem aos 70 anos do compositor e integrou as comemorações dos 60 anos do coral IFCE. “O show já era forte, emocionante. Agora, acredito que terá ainda mais emoção”, completa Marcelo Leite, coordenador e regente do coral do IFCE.
Em cerca de 60 minutos, o grupo – composto por 45 coralistas – irá apresentar canções emblemáticas de Belchior como A Palo Seco, Alucinação e Paralelas. Algumas das composições receberam uma versão especial para o espetáculo. “Passamos um ano na preparação dos arranjos, ensaios. De lá pra cá, apresentamos o espetáculo sempre com muito envolvimento dos coralistas com a obra”, explica Marcelo. Após a morte do cantor, o coral foi convidado para fazer uma homenagem a Belchior durante a missa de sétimo dia.
Para André Dias, a responsabilidade de subir ao palco e cantar Belchior agora é infinitamente maior. O coralista frisa que após tanto tempo dedicado aos ensaios, estudo da obra e apresentações, Belchior se tornou íntimo do grupo. “Foi extremamente emocionante cantar na missa, junto aos familiares do cantor. Foi forte, nossos olhos encheram de lágrimas e, em alguns momentos, a garganta apertou”, comenta André. As músicas interpretadas pelos coralistas na missa de sétimo dia foram Aluncinação e Tudo Outra Vez. O regente Marcelo Leite garante que o musical vai envolver o público. E que será uma homenagem à altura do rapaz latino-americano. “Os coralistas estão vivenciando isso muito intensamente. Será uma noite de muitas emoções”, finaliza Marcelo.
O rapaz vindo do interior
A notícia da morte de Antônio Carlos Belchior chegou no dia 30 de abril. O sobralense faleceu em Santa Cruz do Sul (RS), a 120km de Porto Alegre, onde morava com a companheira Edna Assunção de Araújo em um exílio voluntário de pouco mais de uma década. A causa da morte foi natural, após o rompimento da aorta.
https://youtu.be/fDHQZ6v3OAA
Um dos membros do Pessoal do Ceará, que inclui nomes como Fagner e Ednardo, Belchior foi um dos principais compositores nordestinos de MPB. Com 17 discos lançados, o sobralense deixou legado grandioso e incontestável ao Ceará. A morte do cantor teve repercussão nacional.
“Compor Mucuripe ao lado dele (Belchior) foi mágico. Estávamos no cenário certo, na hora certa. Foi nossa primeira parceria de outras mais que vieram. Poderiam ter sido mais”, declarou o cantor Fagner, conterrâneo de Belchior, ao O POVO Online. “Um grande representante da nossa geração do Ceará. As poucas músicas que fizemos juntos valeram muito à pena”, enfatizou.
Em seu perfil pessoal no Facebook, o cantor e compositor Alceu Valença falou sobre o início da amizade com Belchior. “Conheci Belchior por volta de 1970, quando ele concorreu no mesmo festival em que Geraldo Azevedo e eu também disputávamos um lugar ao sol. Ele havia recentemente vindo do Ceará e sua música era Hora do Almoço, um clássico. Belchior era um filósofo, possuía uma erudição impressionante. A última vez que nos vimos foi num 14 de julho em Paris. Brindamos juntos a Queda da Bastilha! Há poucos anos, eu estava em Porto Alegre quando soube pela imprensa local que ele havia aparecido na cidade. Mas já era a fase do mistério e não nos encontramos. Foi um dos grandes poetas da música brasileira”, publicou Alceu após receber a notícia sobre a morte de Belchior.
Espaço para a memória
No dia 19 de maio, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) inaugurou, na Praia de Iracema, o Centro Cultural Belchior. Localizado o prédio histórico que inicialmente abrigaria a Casa da Lusofonia, o equipamento será local para a realização de shows, saraus, mostras e outras atividades culturais. Atualmente, o espaço recebe uma exposição de 60 peças de artes visuais que homenageiam o cantor e compositor cearense. O acervo foi doado pelo amigo pessoal do cantor, o produtor e artista plástico Tota. A exposição pode ser conferida das 8 às 17 horas.
Serviço
Alucinação: Coral do IFCE canta Belchior
Quando: quarta-feira, 31, às 19h30min
Onde: Theatro José de Alencar
Entrada: 1kg de alimento
Facebook: www.facebook.com/ifcecoral/